"A guerra de Putin [Presidente russo] contra a Ucrânia deixou absolutamente claro que precisamos de avançar ainda mais depressa, reformular o sistema energético europeu e pôr fim à nossa perigosa dependência dos combustíveis fósseis russos o mais depressa possível", vincou a comissária europeia da Energia, Kadri Simson.
Falando em conferência de imprensa à margem da sessão plenária da assembleia europeia, na cidade francesa de Estrasburgo, a responsável europeia pela tutela insistiu que "as ações de Putin fizeram sentir esta urgência em toda a UE".
Ainda assim, a comissária europeia lembrou que "esta não é a primeira vez que a UE lida com esta verdade", já que, "em 2009, quando a Rússia parou os fornecimentos de gás à Ucrânia, houve a necessidade de trabalhar arduamente para diversificar os fornecimentos".
"Graças a estes esforços, estamos numa posição muito melhor do que estávamos há cinco ou 10 anos, mas ainda não estamos onde temos de estar em termos energéticos, já que as coisas levam tempo", ressalvou Kadri Simson, falando no dia em que a Comissão Europeia divulga um plano de ação para energia mais acessível, segura e sustentável, visando tornar a UE independente dos combustíveis fósseis russos antes de 2030, responder ao aumento dos preços da energia na Europa e reconstituir as reservas de gás para o próximo inverno.
Vincando que a UE ambiciona "acessibilidade de preços, sustentabilidade e segurança" energética, a responsável adiantou que "a agressão da Rússia contra a Ucrânia aumentou a pressão sobre os preços e os mercados também estão nervosos acerca do risco de retaliação russa", havendo ainda "a preocupação imediata de assegurar que a Europa está pronta para uma interrupção do fornecimento".
A Comissão Europeia propôs hoje eliminação progressiva da dependência de combustíveis fósseis da Rússia antes de 2030, com aposta no GNL e nas energias renováveis, estimando reduzir, até final do ano, dois terços de importações de gás russo.
Também hoje, o executivo comunitário anunciou que vai apresentar, até abril, uma proposta legislativa para exigir que a armazenagem subterrânea de gás na UE esteja pelo menos 90% preenchida até outubro de cada ano, para evitar problemas de fornecimento.
A Comissão Europeia avançou ainda com orientações aos Estados-membros para responder à escalada dos preços energéticos, explicando que os países podem intervir nas tarifas da luz perante "circunstâncias excecionais" e admitindo limites temporários na UE.
A comunicação da Comissão Europeia surge numa altura de aceso confronto armado na Ucrânia provocado pela invasão russa, tensões geopolíticas essas que têm vindo a afetar o mercado energético europeu, já que a UE importa 90% do gás que consome, sendo a Rússia responsável por cerca de 45% dessas importações, em níveis variáveis entre os Estados-membros.
A Rússia é também responsável por cerca de 25% das importações de petróleo e 45% das importações de carvão da UE.
Devido a esta dependência, Bruxelas tem vindo a defender a necessidade de garantir a independência energética da UE face a fornecedores "não fiáveis" e aos voláteis combustíveis fósseis.
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