Discursando perante o Parlamento Europeu, em Estrasburgo, França, Mario Draghi afirmou que "reduzir as importações de combustíveis fósseis da Rússia torna inevitável que a Europa se vire para o Mediterrâneo para satisfazer as suas próprias necessidades".
"Refiro-me ao gás como combustível de transição, mas sobretudo à enorme oportunidade que representam as [energias] renováveis em África e no Médio Oriente. Os países do sul da Europa e Portugal em particular estão colocados numa posição estratégica para recolher esta produção energética e fazer a ponte para os países do norte", defendeu.
Lembrando que a Itália é dos países "mais expostos" à dependência da energia russa, pois cerca de 40% do gás que importa vem da Rússia, o que não invalidou que apoiasse todas as sanções impostas pela UE a Moscovo, "incluindo no setor energético", e vá continuar a fazê-lo, o chefe de Governo italiano argumentou que a diversificação das fontes energéticas é também importante para a Europa reduzir os elevados montantes que "envia a [Vladimir] Putin e que, inevitavelmente, financiam a sua campanha militar" na Ucrânia.
A intervenção de Draghi no hemiciclo de Estrasburgo tem lugar um dia após a celebração de um Conselho extraordinário de ministros da Energia da UE, em Bruxelas, convocado na sequência da recente decisão da empresa russa Gazprom de cortar o fornecimento de gás a dois Estados-membros, Polónia e Bulgária, por não pagarem em rublos, como exigiu Moscovo.
Nessa reunião, também Portugal voltou a defender a necessidade de a União Europeia fortalecer a diversificação de fontes e rotas de gás e investir nas interligações energéticas da Península Ibérica com o resto da Europa.
A posição foi expressa pelo ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, que explicou no final da reunião que a mesma "foi muito centrada no tema do gás e da decisão da Gazprom", tendo, basicamente, cada Estado-membro procurado "responder a duas questões muito concretas: qual é a sua atual circunstância relativamente a este tema em concreto do gás, e segundo, o que é que cada país entende que deve ser feito no futuro, para a UE ter maior nível de resiliência relativamente ao mercado do gás".
"Nós reforçámos nesta reunião aquilo que é a posição portuguesa relativamente à necessidade de fortalecer a diversificação de rotas e fornecedores na União e aproveitar melhor os terminais GNL [gás natural liquefeito] existentes, como é o caso do terminal de Sines. E, se isso for feito, Portugal pode obviamente reforçar o seu apoio e ajuda no fornecimento de GNL a toda a Europa", declarou o ministro.
De acordo com Duarte Cordeiro, o Governo entende que também "é fundamental reforçar as interligações europeias a nível da energia, em particular entre Portugal e Espanha e Espanha e França, e que deve ser disponibilizado financiamento europeu para estas infraestruturas, que hoje poderão ser usadas por exemplo no gás, mas amanhã poderão ser usadas em gases renováveis ou mesmo hidrogénio".
"É muito importante para Portugal que volte a colocar-se na agenda política a questão das interligações a nível europeu e que elas possam ser suportadas e financiadas. Neste momento já não é só uma questão de se olhar para Portugal e Espanha na perspetiva de terem uma fraca interligação com o resto da Europa, é também o facto de que Portugal e Espanha podiam estar a ajudar mais o resto da Europa, e não ajudam porque não há essa interligação", sublinhou o ministro.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.
A ofensiva militar causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de 5,5 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
As tensões geopolíticas devido à guerra da Ucrânia têm afetado o mercado energético europeu, já que a UE importa 90% do gás que consome, sendo a Rússia responsável por cerca de 45% dessas importações, em níveis variáveis entre os Estados-membros, tendo Duarte Cordeiro explicado que Portugal "está pouco exposto ao fornecimento de gás russo", precisando que, em 2021, este representou menos de 10% do gás importado por Portugal, valor que já estava previsto ser ainda mais baixo este ano.
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