"Para já [a precipitação] não é relevante. Não altera significativamente a situação de seca severa e pode trazer alguns problemas na viticultura que, esperemos que não aconteçam", afirmou Cerqueira Rodrigues.
Contactado pela agência Lusa, o presidente da associação, que representa os agricultores do distrito de Viana do Castelo, alertou para os cuidados que é preciso ter com as doenças que a precipitação registada pode causar nas vinhas.
"Estamos numa altura de início de vindimas e a chuva que caiu pode trazer alguns problemas como o míldio [doença que ataca todos os órgãos verdes da videira, desde as folhas, gavinhas, ramos e cachos]. Poderá obrigar a tratamentos adicionais com a utilização de fitofármacos na viticultura", afirmou.
O responsável disse esperar "que a água venha na altura certa" porque "a humidade da chuva que caiu nos últimos dias e o calor previsto para os próximos dias podem gerar fungos, como o míldio".
"Os agricultores têm de estar atentos a isso", sensibilizou.
Além da viticultura, Cerqueira Rodrigues adiantou que no distrito de Viana do Castelo a precipitação "resolveu pouco porque a água não chegou aos lençóis freáticos".
"É melhor do que nada, mas não é suficiente para repor os níveis freáticos que se exigiam para assegurar a disponibilidade de água, quer para as culturas de verão quer para as culturas de inverno", especificou.
As preocupações que os agricultores fazem chegar à associação prendem-se sobretudo com os custos acrescidos com o abastecimento de água para as explorações agrícolas e a alimentação do gado.
"A situação de escassez de água obriga à utilização de água dos poços, a consumir energia e há ainda preocupações com as algumas culturas que geram pastagens para os animais. Há falta de pastagens. É óbvio que as pastagens melhoraram um bocadinho, mas não é muito relevante", assegurou.
Segundo Cerqueira Rodrigues, "os custos de produção no setor pecuário sofreram aumentos elevados face à necessidade de os produtores terem de comprar rações para garantir a alimentação adequada ao gado".
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) anunciou hoje que nos primeiros 15 dias de setembro verificou-se um "desagravamento significativo" da situação de seca meteorológica em todo o território, em especial nos distritos da Guarda, Viseu e Castelo Branco.
"A 15 de setembro verificou-se uma diminuição significativa da situação de seca meteorológica em todo o território, com as classes de seca moderada e severa a predominarem em todo território", refere o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) numa análise climatológica à primeira quinzena de setembro.
Segundo o IPMA, a classe de seca extrema teve uma diminuição "muito acentuada", mantendo-se apenas a região de Bragança nessa classe.
O IPMA salienta que em alguns locais dos distritos da Guarda, Viseu e Castelo Branco se verificou "um desagravamento muito significativo da seca meteorológica", passando da classe de seca severa, a 31 de agosto, para a classe de seca fraca, uma vez que os valores de precipitação ocorridos foram muito superiores aos valores médios para o mês.
Na análise, o IPMA dá também conta de um "aumento do índice de água no solo", que é "mais significativo" no litoral Norte, em toda a região Centro e no Alto Alentejo, mantendo-se "muito baixo" no Nordeste.
O IPMA avança que o valor da precipitação nos primeiros 15 dias de setembro corresponde, até à data, ao quarto setembro mais chuvoso desde 2000, sendo superado por 2014, 2002, 2006, 2021.
"As quantidades de precipitação ocorridas na primeira quinzena de setembro verificaram-se principalmente nos dias 12 a 14, com os valores mais significativos a ocorreram no interior Centro, em particular no distrito da Guarda. Neste distrito a precipitação ocorrida nos dias 12 a 14 de setembro é superior ao valor normal para o mês e cerca do triplo da precipitação normal do mês", refere o IPMA, indicando que o total de precipitação, na primeira quinzena de setembro, corresponde a 123% em relação ao valor médio entre 1971- 2000.
De acordo com o IPMA, os valores de precipitação foram muito superiores ao normal nos distritos de Guarda, Castelo Branco, Lisboa e na zona de Beja, mas, por outro lado, foram inferiores ao normal no interior Norte, na faixa litoral entre Porto e Aveiro, numa faixa interior do Baixo Alentejo e no sotavento algarvio.
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