"Penso que, com as circunstâncias atuais, poderemos chegar a um acordo para o desenvolvimento do Greater Sunrise até final do ano", disse Vitor Soares em declarações à Lusa.
"Temos estado a negociar com a Austrália, um gigante, e isso não foi nada fácil. Foi um esforço gigantesco e estamos a mais de metade da trajetória. Agora a continuidade depende do próximo Governo", afirmou.
O responsável falava à margem da apresentação hoje em Díli de um relatório da atividade do seu Ministério durante o mandato que está prestes a terminar -- as eleições legislativas decorrem a 21 de maio.
Para Soares há um novo ímpeto dos dois países para que o projeto avance.
"Com a nomeação do representante do Governo australiano, o senhor Steve Bracks, sentiu-se um grande contributo para o processo. Há sempre algumas diferenças, mas isso é normal numa negociação. Mas o nosso objetivo final continua a ser de fazer avançar e concluir o projeto, essa é a nossa meta conjunta", disse.
"Os aspetos técnicos estão quase concluídos, falta apenas o conceito de desenvolvimento. Isso cabe aos elementos do consórcio decidir, alinhando com os objetivos dos dois Estados. Nós os timorenses sempre confiamos nas nossas próprias forças, no espírito que todos temos e vamos ter esperança", afirmou.
O próximo passo será a conclusão de um estudo sobre as viabilidades económicas das várias opções de desenvolvimento do projeto, tendo o consórcio lançado já um concurso internacional para identificar a equipa que o vai realizar.
Soares admite que o estudo poderá estar concluído até meados do ano, permitindo depois avançar-se no acordo final sobre o modelo de desenvolvimento.
"Foi um mandato com tantos desafios e obstáculos, mas penso que conseguimos avançar algumas coisas. Deixamos várias recomendações para que o próximo Governo mantenha essa continuidade nos esforços de sustentabilidade da governação, em particular neste setor que é um pilar importante para a economia e futuro do país", disse.
"Agora, caberá já ao próximo governo avançar", vincou.
Depois de vários anos de impasse, as negociações relativamente ao projeto do Greater Sunrise têm vindo a intensificar-se nos últimos anos, em particular com a perceção de maior flexibilidade da operadora, a Woodside, a mudança do Governo em Camberra e a nomeação de Steve Bracks, o ex-chefe do Governo do Estado de Victoria, como enviado australiano para o processo.
Localizado a 150 quilómetros de Timor-Leste e a 450 quilómetros de Darwin, o projeto Greater Sunrise tem estado envolto num impasse, com Díli a defender a construção de um gasoduto para o sul do país e a Woodside, segunda maior parceira do consórcio, a inclinar-se para uma ligação à unidade já existente em Darwin.
Em fevereiro, o ministro do Petróleo e Assuntos Minerais timorense reafirmou esse empenho, ao considerar que "Timor-Leste tem todas as condições para dizer que só o gasoduto para Timor-Leste é que tem ótimas condições para o país".
Steve Bracks esteve esta semana em Díli para contactos com os principais responsáveis do país, tendo os líderes timorenses reafirmado a vontade da construção do gasoduto para Timor-Leste.
O contexto internacional favorece, com crescente procura de alternativas de gás natural, favorece igualmente o desenvolvimento do projeto.
Em fevereiro, os parceiros do consórcio - a timorense TIMOR GAP (56,56%), a Operadora Woodside Energy (33,44%) e a Osaka Gas Australia (10,00%) -- anunciaram que vão comparar as opções de um gasoduto para Timor-Leste ou para a Austrália e identificar o mais benéfico para os timorenses.
"Os estudos incluirão a avaliação de qual opção proporciona o benefício mais significativo para o povo de Timor-Leste. O consórcio tem como objetivo completar o programa de seleção de conceito rapidamente, dado os benefícios que poderiam fluir do desenvolvimento dos campos Sunrise", referiu um comunicado conjunto.
Analistas sublinham que a opção do gasoduto para Timor-Leste pode igualmente ser reforçada por um acordo entre os Trabalhistas e os Verdes australianos, com novas condições para o desenvolvimento de projetos de gás.
Esse acordo determina que futuros projetos de gás na Austrália teriam que ser 'net zero', tornando mais difícil a opção defendida pela empresa australiana Wooside, de ligação de um gasoduto do Greater Sunrise a Darwin, no norte da Austrália.
Em novembro, depois de ser nomeado, Bracks mostrou-se otimista em relação a um acordo sobre o projeto em 2023, afirmando que há uma curta janela de oportunidade para o tornar viável.
"Consideraria um êxito conseguirmos que todas as partes concordem que este projeto tem de avançar. Eu tenho uma posição finita. Estou nestas funções há um ano e só as vou assumir um ano, por isso quero fechar isto até novembro do próximo ano. Se não conseguir, ficarei muito desapontado", disse à Lusa.
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