Dependência das centrais térmicas em Cabo Verde aumentou em 2022

Mais de 83% da eletricidade produzida em 2022 em Cabo Verde pela Electra foi garantida por centrais térmicas, mas praticamente um quarto do total foi dada como perdida, ficando por faturar, segundo o relatório e contas do grupo estatal.

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Lusa
31/05/2023 10:49 ‧ 31/05/2023 por Lusa

Economia

Cabo Verde

De acordo com o documento, a que a Lusa teve hoje acesso, o grupo Electra produziu em 2022 um total de 468,9 GigaWatts-hora (GWh) de energia, sendo 83,2% de origem térmica (81,7% em 2021), 15,4% eólica e 1,4% solar.

A Electra detinha em 2022 um conjunto de 14 centrais térmicas, de dimensões variadas, em todas as ilhas, um parque eólico e dois parques solares.

"Em relação ao ano 2021, registou-se um aumento da produção de eletricidade em 6,2%, resultando no aumento global da produção térmica em 8,1%e uma diminuição da produção eólica em 2,2% e da produção solar em 2,3%. Destaca-se o aumento da produção de eletricidade em torno de 25,7%, na ilha do Sal, resultante da retoma da demanda da ilha para níveis pré-pandémico", reconhece a Electra, no relatório.

Acrescenta que desta forma a taxa de penetração total de energias renováveis em Cabo Verde, em 2022, foi de 16,8% (78,8 GWh), um decréscimo de 1,5 pontos percentuais em relação ao ano de 2021 (80,6 GWh, 18,3%).

A empresa justifica a quebra no peso das renováveis "essencialmente pelo aumento da demanda da ilha do Sal", que teve de ser "satisfeito na sua maioria pela produção térmica", que foi incrementada.

O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, afirmou em 24 de maio que a futura central de bombagem hídrica de Santiago, um investimento de 70 milhões de euros, permitirá reduzir em 22% o consumo de combustível para produção de eletricidade.

"É um investimento estruturante. Não se faz de um momento para o outro. São 70 milhões de euros de investimento, leva quatro anos para ser executado, tem um impacto substancial e transformador", afirmou o chefe do Governo, que participava no debate mensal na Assembleia Nacional, na Praia, com o tema "Estratégia de Aceleração da Transição Energética".

"Irá aumentar significativamente a capacidade de armazenagem de energia e provocar uma redução de 22% no consumo do combustível usado para a produção de eletricidade", enfatizou.

De acordo com o primeiro-ministro, a taxa de penetração das energias renováveis na produção de eletricidade "tem oscilado entre os 18 e os 20%", e o seu aumento está dependente da capacidade de armazenamento dessa produção, ainda diminuta.

"A meta do Governo é atingir 30% da produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis até 2025", ultrapassar 50% até 2030 e atingir "quase 100% em 2040", referiu.

No relatório e contas do ano passado, aprovado este mês em assembleia-geral, a Electra reconhece ainda que os níveis de perdas e dívidas de clientes "continuam a constituir dos principais constrangimentos", ao ver-se "privada de importantes recursos".

Assim, em 2022, e apesar de uma diminuição de 1,0 pontos percentuais das perdas globais de eletricidade técnicas e não técnicas, esse volume ainda se cifrou na ordem de 115 GWh, representando 24,4% da produção.

"Este registo é claramente alavancado pelas perdas na ilha de Santiago, que continuam em patamares muito elevados, situando-se em 89,9 GWh (34,5%) da produção e representando 78% das perdas a nível nacional (115 GWh)", destaca a Electra.

A via judicial e a instalação de contadores pré-pagos são soluções definidas pela administração para conter o problema, que se arrasta há vários anos, nomeadamente com 25,5% de perdas totais em 2021 e 26,1% dados como perdidos em 2020.

"Para a redução dos níveis atuais de perdas e recuperação de dívidas pela via judicial, espera-se um melhor desempenho da Unidade de Combate a Perdas não Técnicas, Furto e Fraude de Eletricidade e Água", defende a administração da Electra, no relatório e contas de 2022.

Em matéria de produção de água, a empresa contava no final de 2022 com três centros produtores, nas ilhas de São Vicente, Sal e Santiago, registando um volume de produção de água dessalinizada na ordem de 9,77 milhões de metros cúbicos, um aumento face aos 8,68 milhões de metros cúbicos em 2021.

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