De acordo com Olavo Correia, que é também ministro das Finanças de Cabo Verde, o país leva o tema aos encontros anuais do Banco de Desenvolvimento Africano (BAD), que decorrem até sexta-feira em Nairobi, no Quénia.
"É fundamental que os países credores olhem para as especificidades e as vulnerabilidades dos pequenos Estados insulares, por isso queremos colocar na agenda o tema da conversão da dívida em investimento climático", explicou, em entrevista à Lusa à margem dos encontros do BAD, na capital queniana.
"Começamos a conversar com Portugal, Angola quer também entrar, queremos mobilizar outros parceiros para que possamos ter um envelope que seja importante para atrair investimento privado para Cabo Verde na área do clima, mas sobretudo para convertermos o passivo, que é dívida, num ativo, que é investimento no clima, criando empregos, bem remunerados, para os nossos jovens", acrescentou o governante.
Investimentos que depois, explicou, permitem promover o acesso a energia, água, saneamento, "não só continuado, mas a um preço muito mais abordável para os cidadãos e para as empresas".
"Porque também é um elemento muito importante: reduzir os custos de contexto e melhorar a capacidade de criação de empregos por parte das empresas privadas nacionais, na diáspora, mas também estrangeiras que querem investir em África, investir em Cabo Verde", defendeu.
Mais de 3.000 economistas, políticos, governantes e especialistas participam nestes encontros anuais do BAD, em que será debatida, até sexta-feira, a necessidade de reformar as instituições financeiras internacionais para desenvolver o continente, com a prioridade da instituição em liderar o "desafio de reformar as instituições financeiras mundiais".
O Grupo BAD é a principal instituição africana de financiamento do desenvolvimento e reúne-se em Nairobi com o objetivo de debater "A Transformação de África, o Grupo Banco Africano de Desenvolvimento e a Reforma da Arquitetura Financeira Global".
"São temas importantes que estão em pauta e aquilo que acontece é que o setor privado terá de ter um papel acrescido nesta nova abordagem, porque perante os desafios colossais com as quais estamos confrontados, perante a necessidade de respondermos com urgência, os meios públicos não são suficientes. Portanto, se é possível darmos resposta mobilizando os meios privados, financiamento privado e também parcerias público privadas para além do financiamento concessional e também dos recursos que podemos mobilizar nos nossos países", apontou Olavo Correia.
Para tal, defendeu, os países africanos têm de apresentar "boa governança, transparência, instituições, regulação, confiança, previsibilidade", para que "também os mercados deem resposta em termos de atração de investimento privado".
"Mas sobretudo como é que nós podemos apoiar não apenas as grandes empresas, mas também o sistema económico africano e cabo-verdiano, as Micro Pequenas e Médias Empresas (MPME) que precisam de um sistema de partilha de risco para que possam ter acesso a financiamento para poderem empreender. E nós hoje, em África, não temos um sistema financeiro adaptado para MPME. O BAD tem também de entrar para ajudar", disse, apontando o papel da maior instituição financeira africana igualmente "na governança".
"Para que, juntamente com as grandes empresas, possamos ter um tecido económico forte em África e forte em Cabo Verde para criar empregos qualificados", defendeu.
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