Até ao momento a comunidade científica ainda não está a par acerca dos fonemas exatos que representam maior perigo de contaminação, contudo, segundo um artigo publicado na renomada revista Galileu, para o linguista Georgios Georgiou, docente na Universidade Russa da Amizade dos Povos (na Rússia), as consoantes aspiradas apresentam uma grande probabilidade de integrarem esse 'temido' grupo.
Numa pesquisa que será publicada na edição de novembro da revista Medical Hypotheses, o linguista afirma que a vocalização de consoantes aspiradas - por outras palavras, sons acompanhados pela emanação de ar - pode incitar a propagação do SARS-CoV-2.
Georgiou, acredita que o processo pode elucidar porque a possibilidade de transmissão da doença é mais elevada em determinados países.
Bizarro?
Ora, nem tanto. Conforme explica a revista Galileu, não é a primeira vez que o contágio de patologias é associado a características específicas de idiomas. Por exemplo, em 2003 quando um surto de SARS teve lugar no sul da China, foram registados oito mil ocorrências da doença num total de 26 países. Entre os quais, 70 sucederam nos Estados Unidos e curiosamente nenhum no Japão, apesar da quantidade de turistas japoneses naquela parte do planeta ser muito mais elevada.
Na altura muitos cientistas atribuiriam uma explicação linguística ao fenómeno. Se por um lado, a comunicação adotada pelos chineses com os japoneses era em japonês, uma língua caracterizada por conter poucas consoantes aspiradas; por outro lado, para falar com os norte-americanos era necessário usar o inglês - idioma este, em que o valor de fonemas juntamente com a ação de exalação de ar, como [p], [t] e [k], é por exemplo, superior.
Coronavírus na fala?
Agora, a Galileu explica que Georgios Georgiou decidiu investigar se estava possivelmente a ocorrer o mesmo estranho acontecimento.
O académico analisou os dados oficiais de 26 países com mais de mil casos de registados do novo coronavírus até ao dia 23 de março. As línguas estudadas foram divididas em dois grupos, tendo em atenção a existência ou carência de consoantes aspiradas.
"O nosso estudo não incluiu a Suíça porque tem vários idiomas oficiais", disse num comunicado emitido à imprensa.
"Também excluímos países com muitos ou poucos casos por milhão de residentes, como Itália e Japão, respectivamente, para evitar valores extremos".
De acordo com Georgiou, apesar das diferenças detetadas não terem sido estatisticamente notórias, detetou-se que as nações que falam sobretudo idiomas com consoantes aspiradas apresentaram mais casos de Covid-19, nomeadamente 255 por 1 milhão de residentes, relativamente a 206 casos por milhão no segundo grupo.
"Embora nenhuma relação clara tenha sido observada, não descartamos que a disseminação de Covid-19 possa ser parcialmente devida à presença de consoantes aspiradas na principal língua de um país", disse o investigador russo.
"Esse pode ser um insight valioso para epidemiologistas", concluiu.