"O Estado de Direito está ferido de morte em Hong Kong graças a Carrie Lam", afirmou Mo, no final de uma semana marcada por uma série de detenções de ativistas e deputados por alegadas ações ilegais durante as manifestações pró-democracia que duram há quase três meses na ex-colónia britânica administrada desde 1997 pela China.
"O governo de Hong Kong está a acabar ou a tentar acabar com a nossa liberdade de expressão, de protestar, e a tentar transformar as pessoas em ovelhas obedientes", criticou.
A ex-jornalista, que em 2006 fundou o Partido Cívico, foi eleita pela primeira vez para o parlamento de Hong Kong em 2012, para quatro anos depois garantir a reeleição, de novo pelo distrito de Kowloon West.
"O governo de Carrie Lam e a sua administração tornou-se muito autoritária" e se esta "invocasse a legislação de emergência tornaria Hong Kong numa ditadura".
A ex-jornalista da agência de notícias France-Presse cobriu em 1989 os acontecimentos na Praça Tiananmen, quando o movimento pró-democracia iniciado por jovens estudantes da Universidade de Pequim foi esmagado na noite de 03 para 04 de junho, após a entrada de tanques do exército para pôr fim a sete semanas de protestos, o que resultou num número indeterminado de mortos.
Para Cláudia Mo, hoje "seria impensável [Pequim] usar as tropas para acabar com a agitação civil nestes tempos modernos". Afinal, explicou, "estamos em 2019 e simplesmente não se pode fazer isso e, por essa razão, voltaram-se para as detenções em série".
Contudo, ressalvou, o posicionamento das tropas do exército chinês e destacadas na guarnição em Hong Kong continua a ter apenas uma leitura: "Estão a utilizar todos os meios para intimidarem as pessoas".
Por outras palavras, insistiu, "querem assegurar-se que a população de Hong Kong sabe que a ameaça está presente".
Como deputada, assegurou, a invasão do parlamento e a vandalização do Conselho Legislativo para o qual foi eleita levaram-na às lágrimas. Admitiu que "foi chocante".
Disse lembrar-se que estava num direto para a estação televisiva norte-americana CNN.
"Foi muito chocante, essas imagens da invasão, mas imediatamente compreendi que era preciso perceber a raiva, o ressentimento, frustração e hostilidade desta juventude que se foi somando ao longo de todos estes anos, desde 1997, exatamente há 22 anos", sublinhou.
É que, sustentou, "os jovens entenderam que por meio dos protestos pacíficos não conseguiam ganhar nada".
Num momento em que os confrontos entre manifestantes e a polícia prosseguem e que se parece viver um impasse político, Mo prevê que "os protestos vão continuar", pelo menos até 01 de outubro, "data estabelecida por Pequim, porque assinala o Dia Nacional" da China.
Os protestos em Hong Kong começaram a 09 de junho, inicialmente contra emendas propostas pelo Governo a uma lei que permitira extraditar suspeitos de crimes para a China.
Os manifestantes exigem atualmente resposta a cinco reivindicações: a retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão da chefe de governo Carrie Lam e sufrágio universal nas eleições para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.