Os dois campos sabiam há alguns meses que a sentença do julgamento dos principais políticos envolvidos, em 2017, na tentativa de independência da região catalã seria lida em meados de outubro e tiveram tempo para se preparar para esse dia.
Os socialistas espanhóis, agora no poder em Madrid, não quiseram repetir os erros que criticaram ao anterior executivo de direita liderado por Mariano Rajoy de não ter conseguido explicar de forma convincente a ilegalidade da tentativa separatista no estrangeiro.
O Governo espanhol difundiu logo na segunda-feira, pouco antes da publicação da sentença, um vídeo onde, durante oito minutos, vários ministros explicam a robustez do sistema democrático espanhol em várias línguas e onde defendem que "Espanha é a casa de todos".
Carmen Calvo (vice-primeira-ministro), Josep Borrell (Negócios Estrangeiros), Fernando Grande Marlaska (Administração Interna), Isabel Celaá (Educação), Nadia Calviño (Economia), Luis Planas (Agricultura), Teresa Ribera (Meio Ambiente), José Guirao (Cultura) e Pedro Duque (Investigação) explicavam em inglês, francês, alemão ou russo que Espanha é uma democracia sólida e uma das mais fortes do mundo.
O primeiro-ministro em funções, Pedro Sánchez, também divulgou o vídeo na sua conta na rede social Twitter, com um texto em que afirmava que "a Espanha é uma democracia consolidada. Um Estado de direito dos mais avançados do mundo e um dos países mais livres e seguros".
Na declaração que fez na segunda-feira, duas horas depois de conhecida a decisão do Tribunal Supremo espanhol, Pedro Sánchez, depois de fazer uma declaração em espanhol, repetiu uma parte em inglês, em que sublinhou o "trabalho independente" dos juízes que trabalharam "com o respeito escrupuloso das suas obrigações".
Por outro lado, desde a semana passada que os correspondentes internacionais em Madrid eram contactados para saber do seu interesse em conversar com um membro do Governo assim que fosse conhecida a sentença do Tribunal Supremo.
O Governo continuou a campanha hoje para defender a força da democracia espanhola com um novo vídeo em que vários cidadãos estrangeiros residentes em Espanha avaliam a qualidade de vida no país, os seus serviços e a sua democracia.
Os movimentos independentistas, por seu lado, também mostraram que dominam os instrumentos de comunicação para transmitir a sua mensagem a nível internacional.
O evento principal da contestação à condenação dos independentistas foi uma mobilização, através de uma organização misteriosa desconhecida chamada "Tsunami democrático", que apelou na segunda-feira ao bloqueio do aeroporto internacional de Barcelona.
O movimento tentou imitar as manifestações pela democracia em Hong-Kong (China) com palavras de ordem como "Façamos da Catalunha um novo Hong-Kong" e tentando pôr ao mesmo nível a democracia espanhola e a chinesa.
O ex-presidente do Governo regional catalão Charles Puigdemont fugido à Justiça espanhola voltou a fazer-se ouvir para criticar Madrid e a decisão dos juízes a partir de Bruxelas (Bélgica).
Uma das razões para Puigdemont ter fugido em 2017 para a cidade onde está instalada a maior parte das instituições europeias foi exatamente para que uma voz importante do campo separatista continuasse a fazer-se ouvir a nível internacional.
O conhecido catalão Pep Guardiola, ex-jogador e treinador do FC Barcelona e atual treinador do Manchester City (Inglaterra), também agitou as redes sociais na segunda-feira com um vídeo enviado pela plataforma "Tsunami democrático" em que afirmava, em inglês, que o movimento de independência catalão irá continuar até que a Espanha aceite um referendo de autodeterminação para a região.
A região catalã estava hoje a recuperar a normalidade depois dos desacatos de segunda-feira, mas durante a manhã ainda havia estradas cortadas ao trânsito e pelo menos uma linha de comboio de alta velocidade estava fora de serviço.
Na segunda-feira, o Tribunal Supremo espanhol condenou os principais dirigentes políticos envolvidos na tentativa de independência da Catalunha a penas que vão até um máximo de 13 anos de prisão, no caso do ex-vice-presidente do governo catalão.
Ao todo eram 12 os separatistas que aguardavam a leitura da sentença pelo seu envolvimento nos acontecimentos que levaram ao referendo ilegal sobre a autodeterminação da Catalunha realizado em 01 de outubro de 2017 e à declaração de independência feita no final do mesmo mês.
Nove deles já estavam presos preventivamente, enquanto o ex-presidente do executivo regional Charles Puigdemont faz parte de um grupo de separatistas que continuam no estrangeiro e que não foram julgados.