Segundo o relatório sobre o estado da enfermagem no mundo, havia em 2018 quase 28 milhões de enfermeiros, mais 4,7 milhões em relação a 2013 e o equivalente a 59% dos profissionais de saúde.
A OMS alerta, no entanto, que, apesar do crescimento do número de profissionais, continua a haver um défice de cerca de 5,9 milhões de enfermeiros, uma carência que afeta sobretudo países em África, no Sudeste Asiático e na região do Mediterrâneo Oriental.
Nestas zonas, a densidade de profissionais por cada 10 mil habitantes é significativamente mais baixa, de tal forma que mais de 80% do número total de enfermeiros trabalham em países que representam metade da população mundial.
O relatório destaca dois casos extremos para ilustrar esta distribuição desigual: as regiões africana e das Américas. Apesar de populações semelhantes, havia em 2018 quase 10 vezes mais enfermeiros nas Américas (83,4 por 10 mil habitantes) do que em África (8,7).
Perante estes dados, a OMS alerta que os países mais afetados pela falta de enfermeiros devem aumentar em 8% por ano, em média, o número de licenciados, bem como implementar medidas para promover o emprego e a retenção de profissionais nos sistemas nacionais de saúde, já que um em cada oito enfermeiros não trabalha no país onde nasceu ou teve formação.
Estas são medidas igualmente necessárias para assegurar a renovação de profissionais, uma vez que cerca de 17% dos enfermeiros no mundo deverão reformar-se nos próximos 10 anos.
Por outro lado, cerca de 90% dos enfermeiros são mulheres. No entanto, a OMS alerta para a existência de desigualdades de género na profissão, referindo que dos poucos cargos de liderança no setor da saúde ocupados por enfermeiros, a maioria é ocupada por homens.
Quando esses cargos são ocupados por mulheres, acrescenta o relatório, as condições de trabalho da classe tendem a melhorar.
Segundo o diretor-geral da OMS, o relatório agora divulgado ganha particular relevância no contexto atual de pandemia, em que "muitos enfermeiros estão na linha da frente na batalha contra a covid-19".
"Este relatório é um forte lembrete do papel único que desempenham e uma chamada de atenção para garantir que têm o apoio de que precisam para manter o mundo saudável, sublinha Tedros Adhanom.
Para dar resposta aos principais problemas da profissão, a OMS deixa algumas recomendações aos governos nacionais, desde o investimento na formação dos enfermeiros, ao nível das competências científicas, tecnológicas e sociológicas, à melhoria das condições de trabalho.
A OMS recomenda também a modernização e regulação profissional dos enfermeiros, através da harmonização dos padrões de educação e de exercício da profissão, a implementação de políticas sensíveis à igualdade de género, e o reforço do papel dos enfermeiros na tomada de decisão.
O relatório publicado pela OMS resulta da análise de dados de 191 países e foi produzido em parceria com o Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN em inglês) e a campanha Nursing Now.
Segundo o co-presidente da Nursing Now, Nigel Crisp, "as opções políticas refletem ações que todos os países podem tomar nos próximos dez anos para garantir que haja enfermeiros suficientes em todos os países" e para melhorar a prestação de cuidados primários e a resposta a emergências de saúde como a pandemia da covid-19.
A presidente do ICN, Annette Kennedy acrescenta que "os políticos compreendem o custo de formar e manter uma classe profissional de enfermeiros, mas muitos deles só agora reconhecem o seu verdadeiro valor".