Rio de Janeiro. Idosos das favelas recusam isolamento gratuito em hotéis

Idosos das favelas do Rio de Janeiro, um dos grupos de maior risco face à pandemia da covid-19, têm recusado o convite da prefeitura para se abrigarem temporariamente em hotéis com todas as despesas pagas.

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Lusa
09/04/2020 21:56 ‧ 09/04/2020 por Lusa

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Covid-19

 

A iniciativa lançada há duas semanas pela prefeitura daquela cidade brasileira, que visa oferecer 1.000 vagas em hotéis a pessoas com mais de 60 anos residentes em favelas, de foram a mantê-las afastadas de possíveis contágios, só foi aceite por 27 pessoas até hoje, informaram à agência Efe os porta-vozes da secretaria municipal de assistência social e direitos humanos.

Apesar de uma campanha de informação realizada diariamente nas favelas da zona sul do Rio de Janeiro e dos insistentes pedidos do prefeito 'carioca', Marcelo Crivella, os idosos parecem preferir ficar nas favelas com as suas famílias, apesar do risco de contágio.

Crivella reiterou o convite hoje, na tentativa de reduzir o número de pessoas em risco no Rio de Janeiro, cidade em que 22,03% de seus 6,3 milhões de habitantes vivem em favelas, ou seja, 1,4 milhões de pessoas.

"Peço às famílias que reconsiderem a nossa proposta e protejam os seus idosos. São excelentes hotéis. Os quartos possuem ar condicionado, casa de banho privativa, televisão com centenas de canais, internet de banda larga. Também serão servidos pequenos-almoços, almoço, lanche e jantar, e teremos uma equipa médica para os atender. Tenho a certeza de que vão gostar ", disse o prefeito.

Segundo a secretaria de assistência social, o alvo principal da campanha são os idosos que vivem em residências com muitas pessoas, visto que são um dos principais grupos de risco.

O órgão explicou que os seus agentes comunitários estão a percorrer as favelas para identificar possíveis beneficiários e a transmitir mensagens através de altifalantes, assim como visitar todos os inscritos em programas de saúde pública, para oferecer-lhes vagas nos três hotéis contratados.

A resistência dos idosos é atribuída a diferentes fatores, como a recusa em deixarem a família, visto que não podem levar acompanhantes; a falta de convicção de que estão em risco; o medo de não poderem ir ao banco para levantarem as suas reformas de aposentação, ou a necessidade de permanecerem nas favelas para ajudar nos cuidados da casa e das crianças que estão sem escola.

"Muitos idosos conseguiram entender que o isolamento social é a melhor maneira de prevenir a covid-19, mas a maioria sente muita dificuldade em abandonar as suas casas", explicou a fonte da secretaria consultada.

Segundo um líder comunitário da Rocinha, a maior favela do Rio de Janeiro, muitos idosos, mesmo doentes, não querem deixar as suas famílias e consideram que as medidas preventivas adotadas, como aumento da higiene, são suficientes.

O líder comunitário, consultado pela agência espanhola, Efe, garantiu que a maioria dos poucos idosos que aceitaram a proposta da prefeitura já moravam sozinhos na favela, por isso não lhes faz diferença estarem sozinhos no hotel.

Além da preocupação específica com os idosos, a prefeitura teme que o novo coronavírus possa expandir-se incontrolavelmente nas favelas devido à alta densidade populacional daqueles bairros, que apresentam deficiências sanitárias históricas e graves, como falta de saneamento básico.

Nas favelas, são comuns casas em que o mesmo quarto é compartilhado por até quatro ou cinco pessoas.

A Prefeitura do Rio de Janeiro já registou seis mortes relacionadas com o novo coronavírus em favelas, sendo que a vítima mais jovem tinha 48 anos.

Segundo dados oficiais, as pessoas com mais de 65 anos representam 10,53% da população brasileira, mas essa proporção chega a 13,06% no estado do Rio de Janeiro e 14,5% na capital estadual.

O Brasil tinha na quarta-feira 800 vítimas mortais e 15.927 casos confirmados de infeção pela covid-19, segundo o Governo brasileiro.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,5 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram quase 89 mil.

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