George Floyd: EUA vivem "crise moral, além de socioeconómica"

O ator luso-americano Dinarte de Freitas, que viu os protestos sobre a morte de George Floyd chegarem ao seu bairro, em Los Angeles, disse que a situação espelha a crise e a discussão necessária nos Estados Unidos.

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Lusa
02/06/2020 06:46 ‧ 02/06/2020 por Lusa

Mundo

George Floyd

"Eu temo por este país", disse à Lusa o ator. "Neste momento, a América sofre uma crise moral, além de socioeconómica. Tudo isto a acontecer no meio de uma pandemia, a seis meses de uma eleição. O mundo está em convulsão", acrescentou.

Dinarte de Freitas, conhecido pelo personagem Pedro da série "The Gifted" e que entrou na 3.ª temporada de "Stranger Things", disse esperar que a situação acalme e os protestos ajudem à mudança. "Pelo menos que se continue esta conversa mas de uma forma pacífica, e que estes grupos extremistas que andam a incentivar à violência e ao vandalismo possam ser identificados e exista uma ação para os deter".

Depois de um fim de semana de grande agitação, em que o ator se viu envolvido num confronto entre manifestantes e a polícia, que disparou balas de borracha e gás lacrimogéneo para dispersar a população, os ânimos não acalmaram.

"Há ambulâncias e helicópteros cá fora", descreveu. "Os protestos voltam a ser aqui perto de casa. Vi muitas pessoas a taparem as fachadas dos negócios e restaurantes", afirmou.

Los Angeles decretou recolhimento obrigatório nos últimos dias, com a Guarda Nacional a patrulhar as ruas perante protestos que terminaram em vandalismo e pilhagens. O ruído de helicópteros da polícia a sobrevoarem a cidade tem sido constante e foram detidas mais de duas mil pessoas.

"Os protestos começaram de forma pacífica, inclusivamente vi grupos étnicos com trajes dos países a dançar, vi pessoas que estavam calmamente a passar", disse Dinarte de Freitas. "Há a ideia que existem grupos extremistas dentro dos protestos que estão a tentar criar o caos e de certa forma afastar o foco da conversa que as pessoas querem ter", sublinhou.

Neste bairro conhecido como Miracle Mile, perto de Beverly Hills, o supermercado Trader Joe's foi invadido e houve uma tentativa de o incendiar, o Whole Foods foi pilhado, as lojas de departamento Nordstrom no espaço The Grove foram saqueadas, um carro da polícia ardeu e uma loja de "vaping" foi vandalizada, entre outros incidentes.

"Muitas das lojas ainda não tinham tido a oportunidade de reabrir ao público" depois do confinamento causado pela covid-19, disse o ator. "Muitos são negócios pequenos. Nas fachadas puseram cartazes a dizer esta loja pertence a um imigrante ou a alguém de uma minoria, de forma a evitar que vandalizem a propriedade".

Com as dificuldades do confinamento e os prejuízos causados pelo vandalismo, há o receio de que muitos destes pequenos comerciantes "depois não consigam voltar ao trabalho".

Ainda assim, o ator referiu que quando saiu de casa após uma noite de confrontos viu "muitos jovens de várias etnias a limparem as fachadas e os estragos, muitos com vassouras e pás, entre negros, latinos e brancos a ajudar", descreveu. "Isso foi especial de ver", concluiu.

No meio das manifestações, Dinarte de Freitas assistiu a um sentimento de "muita frustração" por parte dos jovens afro-americanos, netos de pessoas que viveram o tempo da segregação, "uma tristeza profunda quase que geracional".

"Consegue-se perceber a raiva nestes jovens", disse, acrescentando: "Não acredito que seja uma raiva contra o branco em si, é uma raiva contra a forma como são tratados, a falta de oportunidades, o económico e social".

O cenário que se vive em vários pontos do condado de LA, que atingiu desde a baixa até Santa Mónica, Beverly Hills e Long Beach, é semelhante ao que se verifica em diversos estados e levou o Presidente, Donald Trump, a fazer uma comunicação ao país.

O chefe de Estado, falando em Washington, D.C., apelou aos governadores dos estados afetados que controlem a violência e disse que se não o fizerem irá convocar o exército para repôr a normalidade.

O ator considerou também é preciso ter bom senso quando o polícia dá uma ordem: "No meio das pessoas boas também existe o chamado oportunista, que são estes grupos extremistas que podem ter uma arma, algo que possa magoar o polícia, e temos uma situação de caos completo".

George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu em 25 de maio, em Minneapolis (Minnesota), depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção, apesar de Floyd dizer que não conseguia respirar.

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