O racionamento da energia elétrica dura há décadas no Líbano, onde o setor da eletricidade constitui o símbolo da má administração dos serviços públicos e da corrupção de que a classe política é acusada.
No entanto, desde junho, os cortes de energia tornaram-se ainda mais frequentes e com maior amplitude, pois chegaram a atingir 20 horas por dia, sobretudo em dias de calor tórrido.
Hoje, um grupo de manifestantes conseguiu romper o cordão de segurança em torno da sede do Ministério da Energia e acampou brevemente no pátio externo, segundo testemunhou a agência noticiosa France-Presse (AFP).
Outros manifestantes foram impedidos pelas forças antimotim, alguns deles atingidos com bastões. Logo depois, vários manifestantes, irados, cortaram brevemente a estrada que leva ao ministério.
"A vossa presença vai mergulhar o Líbano na obscuridade", insistiu um porta-voz dos manifestantes, apelando ainda à demissão do ministro da Energia.
"Estamos aqui porque este é o primeiro ninho de corrupção", disse à AFP um manifestante, assegurando que a "solução" da crise passa pela "partida do conjunto" da classe dirigente.
Pouco depois do início da tarde, apenas um número reduzido de manifestantes permanecia diante do ministério.
Face aos cortes de energia elétrica que duram desde a guerra civil libanesa (1975/90), os habitantes viraram-se para geradores privados.
O setor da energia, nomeadamente a empresa pública Eletricidade do Líbano (EDL), tem sido objeto de muitas suspeitas de corrupção e constitui um buraco financeiro para o Estado, que, segundo a AFP, já custou 40.000 milhões de dólares (cerca de 34.000 milhões de euros) ao Tesouro.
O Líbano está classificado entre os 42 Estados mais corruptos do mundo, segundo a organização não-governamental Transparência Internacional (TI).
Após vários planos de reforma previstos para o setor energético apresentados depois da guerra civil, as medidas nunca foram aplicadas.
A reforma da EDL constitui uma das principais reivindicações das instituições internacionais e dos países doadores para ajudar o Líbano sair de uma crise económica sem precedentes, marcada por uma depreciação inédita da moeda e que lançou mais de metade da população na pobreza.
Segundo um relatório da consultora internacional McKinsey, o Líbano tem a quarta pior rede elétrica do mundo.