Empresa brasileira cria polémica com recrutamento reservado a negros

A empresa brasileira de distribuição Magazine Luiza está a gerar um intenso debate ao anunciar a criação de um programa de recrutamento para futuros executivos exclusivamente para negros, numa iniciativa criticada por aliados do Presidente Jair Bolsonaro.

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© Fabio Teixeira/Anadolu Agency via Getty Images

Lusa
23/09/2020 00:47 ‧ 23/09/2020 por Lusa

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"Sabemos que corremos o risco de sermos agredidos na Justiça, mas vamos lutar, não vamos ceder", disse Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

Luiza Helena Trajano referia-se em particular a uma publicação na rede social Twitter do deputado Carlo Jordy, do Partido Social Liberal (PSL), ex-partido de Bolsonaro, que anunciou que havia entrado com "um pedido perante o Ministério Público para a abertura de uma investigação por racismo por causa de um programa de recrutamento só para negros".

O assunto foi um dos mais comentados nas redes sociais nos últimos dias, com fortes críticas, mas também recebeu muitas mensagens de apoio.

O programa criado pela Magazine Luiza visa recrutar jovens colaboradores que passarão por uma formação especial para se tornarem executivos no futuro e receberão uma entrada de 6.600 reais (cerca de 1.030 euros, no câmbio atual), valor que representa mais de seis salários mínimos brasileiros.

"Apenas 10 das duas mil pessoas em formação que recrutámos até agora eram negras. Tentamos mudar isso com os processos tradicionais de recrutamento, mas não conseguimos", relembrou Luiza Helena Trajano.

Nessa empresa, que possui mais de 1.000 pontos de venda físicos e concorre com a Amazon pela distribuição 'online' no Brasil, 53% dos funcionários são pretos ou pardos (termo usado no Brasil para identificar o tom de pele fruto de uma miscigenação), mas apenas 16% deles ocupam cargos de gestão.

Para Sérgio Camargo, personalidade negra colocada pelo Presidente Bolsonaro à frente da Fundação Palmares, entidade pública de promoção da cultura afro-brasileira, esse programa de recrutamento consiste em "combater o racismo com mais racismo".

Camargo já tinha sido notícia no passado, ao afirmar que a escravidão era "boa para os afrodescendentes".

No Brasil, último país a América a abolir a escravatura, em 1888, mais da metade dos 212 milhões de habitantes são negros ou pardos.

Contudo, essa população negra, embora represente a maioria, ocupa apenas 5% dos cargos de gestão nas 500 maiores empresas brasileiras.

De acordo com o instituto público de estatísticas IBGE, o rendimento médio de um negro no Brasil equivale a 55,8% do rendimento médio de uma pessoa branca.

Para Sueli Carneiro, filósofa negra e uma das principais figuras do movimento antirracista, a iniciativa da Magazine Luiza tem o mérito de "colocar o dedo na ferida".

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