"É claro que a fonte dos problemas da Turquia se encontra nas Constituições escritas pelos golpistas desde a década de 1960 (...). Chegou talvez o tempo para a Turquia reabrir o debate sobre uma nova Constituição", declarou.
"Podemos tomar medidas nesse sentido se encontrarmos um acordo" com o ultranacionalista Partido de Ação Nacionalista (MHP), seu aliado, acrescentou Erdogan em conferência de imprensa após um conselho de ministros em Ancara.
Qualquer projeto de Constituição será submetido a referendo, afirmou.
Em 2017, Erdogan já procedeu a uma profunda revisão da atual Constituição, que data de 1982 e foi redigida na sequência de um golpe de Estado militar.
Nos termos dessa revisão constitucional legitimada por referendo, a Turquia passou de um regime parlamentar para um sistema presidencial e que ampliou consideravelmente os poderes do chefe de Estado.
As últimas declarações do Presidente turco surgem num momento em que numerosos analistas e opositores lhe atribuem a intenção de antecipar as próximas eleições presidenciais e legislativas previstas para 2023, uma opção que desmente.
A organização de um referendo constitucional poderia permitir a Erdogan reunir as suas tropas. Apesar de se manter o responsável político mais popular do país, o apoio da população recuou nos últimos anos devido às crescentes dificuldades económicas.
Nas presidenciais e legislativas organizadas em 2018, Erdogan foi confortavelmente reeleito, mas o seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, no poder desde 2003) não conseguiu garantir a "tradicional" maioria absoluta que durante muitos anos lhe permitiu governar sozinho.
O chefe de Estado dirige atualmente a Turquia na sequência de uma coligação informal com o chefe do MHP, Devlet Bahçeli, no passado um dos seus mais fervorosos rivais.
Num sinal das dificuldades que enfrenta, Erdogan confrontou-se em 219 com uma pesada derrota eleitoral nas municipais, ao perder Istambul e Ancara, cidades que os islamitas-conservadores controlavam há 25 anos.
Erdogan, 66 anos, está no poder desde 2003, de início na qualidade de primeiro-ministro e de seguida, desde 2014, como Presidente.
Em teoria, a atual Constituição permite-lhe manter-se na chefia do Estado até 2028.
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