"Quero ser muito claro: nós não nos deixamos intimidar pela Rússia e esperamos que, com os Estados Unidos e com o Reino Unido, possamos coordenar-nos e cooperar de maneira a que sejamos duros, firmes, e a mantermo-nos calmos, para que consigamos defender os nossos interesses", afirmou Charles Michel durante um evento da organização norte-americana Atlantic Council que debateu a relação transatlântica.
Destacando que a UE tem "preocupações sérias" relativamente ao Kremlin, como testemunham as sanções que foram adotadas em 2014 contra a Rússia após a anexação da Crimeia, Charles Michel ilustrou os diferendos recorrendo às palavras que disse terça-feira ao primeiro-ministro ucraniano, Denis Shmygal, após um encontro entre ambos.
"Tive a oportunidade de reafirmar a posição muito forte e muito unida da UE no que se refere à soberania e à integridade territorial da Ucrânia e da Geórgia", frisou.
O presidente do Conselho Europeu salientou assim que é necessário "manter-se muito comprometido" no quadro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês), para mostrar à Rússia uma postura "muito clara" e "muito firme".
Nesse âmbito, abordou a visita do Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, a Moscovo entre 04 e 06 de fevereiro, salientando que serviu para "ser muito claro" e mostrar à Rússia que a UE "não aceita o seu comportamento" e que está "muito unida" e tem uma "posição firme" sobre "o que estão a fazer com Navalny".
"Sabemos que a Rússia está a desenvolver atividades hostis, utilizando ameaças híbridas, desinformação e 'fake news', não só ao longo das fronteiras orientais da Europa, mas também a sul da Europa, na Líbia, na Síria", referiu.
Referindo que essas ações desestabilizadoras são "algumas vezes" feitas em sintonia com o governo de Istambul -- e relembrando que a Turquia é "um membro da NATO" -- Charles Michel apelou a que o assunto seja abordado em conjunto com os Estados Unidos.
"É uma questão importante que temos de ter em consideração: estão a tomar iniciativas que não estão necessariamente em linha com o interesse europeu e, na minha opinião, americano", frisou.
As declarações de Charles Michel surgem após a visita de Josep Borrell a Moscovo, que ficou marcada pela expulsão de diplomatas da Alemanha, Polónia e Suécia pelo Kremlin, e que foi qualificada por alguns eurodeputados de "humilhante", tendo estes endereçado uma carta à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a pedir a demissão do chefe da diplomacia europeia.
Numa nota publicada no domingo no blogue do Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE), Borrell qualificou a visita de "muito complicada", marcada por uma "conferência de imprensa agressivamente encenada" e pela indicação de que "as autoridades russas não querem aproveitar" a oportunidade para "ter um diálogo construtivo com a UE".
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