Deputados israelitas pediram que a entrega das vacinas seja condicionada ao regresso de dois civis e dos corpos de dois soldados retidos na Faixa de Gaza, enquanto as Organizações Não Governamentais (ONG) acusam Israel de impor um "castigo coletivo" e de não cumprir as suas "obrigações legais e morais" como potência ocupante.
Bloqueado por terra, mar e ar desde 2007, o enclave palestiniano tem apenas um ponto de passagem de mercadorias, controlado por Israel.
A autorização para o envio das vacinas depende de uma decisão do Conselho de Segurança Nacional israelita, vinculado ao Gabinete do primeiro-ministro, que ainda não se pronunciou.
Organizações internacionais e a ONU já haviam repreendido Israel, que hoje ultrapassou os quatro milhões de vacinados com a primeira dose, por não contribuir com a campanha de vacinação da população palestiniana sob a sua ocupação.
A Cisjordânia, com mais de três milhões de habitantes, recebeu apenas 12.000 doses até agora (10.000 doadas pela Rússia e 2.000 por Israel), e a Faixa de Gaza, com mais de dois milhões, nenhuma.
A Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), com sede na Cisjordânia, denunciou na segunda-feira que as autoridades israelitas impediram o envio de um lote de 2.000 vacinas Sputnik, destinadas ao pessoal médico na Faixa de Gaza.
"Israel deve transferir as vacinas para Gaza em termos muito claros, e os requisitos mínimos devem ser a troca dos reféns ou pelo menos informações sobre a sua situação e permissão para a Cruz Vermelha os visitar", explicou hoje à agência espanhola EFE o presidente do comité de relações exteriores e defesa do parlamento israelita, Zvi Hauser.
Também contrária à autorização, a deputada Michal Cotler Wunsh acredita que o envio de vacinas para Gaza -- e, portanto, nas mãos do Hamas, que controla o enclave e é considerado um grupo terrorista - seria fomentar a "cultura de impunidade com a qual um regime terrorista mantém civis cativos".
Por sua vez, a organização israelita Gisha, em defesa da liberdade de movimento, considerou que "bloquear o acesso da ajuda humanitária" às condições políticas é uma forma de "castigo coletiva" para a população de Gaza que "é ilegal e moralmente injustificável".
Na mesma linha, a organização Médicos pelos Direitos Humanos (PHRI, sigla em inglês) acredita que, com este impedimento, Israel viola a sua "responsabilidade perante o direito internacional" e a Convenção de Genebra.
Até agora, o impacto da pandemia de covid-19 no enclave palestiniano foi moderado, com cerca de 55.000 casos, dos quais cerca de 2.300 permanecem ativos e 538 pessoas morreram, mas as autoridades temem um novo pico de infeções.
O Hamas qualificou a demora como um "crime real que contradiz descaradamente o direito internacional e as normas humanitárias".
Enquanto isso, o Ministério da Saúde do enclave apelou às "autoridades internacionais para intervirem para acelerar a entrada" das vacinas e reduzir o risco de um "desastre de saúde".
Além disso, o movimento islâmico alertou hoje para as possíveis repercussões do atraso, semanas depois de Yahya Sinwar, líder do Hamas na Faixa de Gaza, ameaçar que o movimento "saberia responder" caso algo semelhante acontecesse, em referência a uma ação armada.
Para Israel, o retorno de civis e dos corpos de dois soldados que morreram na guerra de 2014 é uma questão de Estado, e as necessidades da pandemia colocaram uma moeda de troca na mesa.