Biden reconhece "genocídio arménio" e arrisca tensão com Turquia

O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, descreveu hoje o massacre de 1,5 milhões de arménios pelo Império Otomano, em 1915, como "um genocídio", num gesto que pode aumentar a tensão com a Turquia.

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Lusa
24/04/2021 18:03 ‧ 24/04/2021 por Lusa

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EUA

 

Numa declaração para comemorar o 106º aniversário do início daquele massacre, que ocorre hoje, Joe Biden tornou-se no primeiro presidente dos EUA, a reconhecer formalmente o que aconteceu como genocídio, algo que seus antecessores evitaram para não colocar em causa a aliança com Ancara.

"O povo americano homenageia todos os arménios que morreram no genocídio que começou há 106 anos", disse Biden na sua declaração.

O presidente usou a palavra "genocídio" duas vezes no comunicado, cumprindo assim uma das suas promessas eleitorais.

Em 2019, tanto o Senado dos EUA quanto a Câmara dos Deputados aprovaram medidas que descrevem o massacre de 1915 como "genocídio", apesar das advertências do governo turco de que isso prejudicaria seriamente as relações bilaterais.

Biden explicou que a sua intenção era "homenagear" a memória e a "dor" dos imigrantes arménios que vieram para os Estados Unidos após o massacre, e os seus descendentes, que nunca esqueceram aquela "história trágica".

"Não estamos a fazer isto para culpar, mas para garantir que o que aconteceu nunca mais se repete", frisou.

O presidente dos Estados Unidos destacou que o respeito pelos direitos humanos é uma de suas prioridades, além de construir "um mundo não contaminado pelos males diários da intolerância".

Até agora, nenhum presidente dos EUA em exercício apelidou oficialmente o massacre de genocídio, embora Ronald Reagan (1981-1989) já tenha usado essa palavra para se referir ao massacre arménio numa proclamação sobre o Holocausto nazista.

O dia 24 de abril marca o início dos massacres de arménios pelo Império Otomano, em 1915.

A Turquia recusa o termo "genocídio" e rejeita qualquer sugestão de extermínio, citando massacres recíprocos num cenário de guerra civil e fome que provocou centenas de milhares de mortes em ambos os lados.

Apesar de anos de pressão da comunidade arménia nos Estados Unidos, nenhum presidente norte-americano ousou irritar Ancara, um aliado histórico de Washington e membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

O presidente turco Tayyip Erdogan já reagiu à declaração de Joe Biden.

Erdogan denuncia a "politização por terceiros" do debate sobre a questão do genocídio arménio e adianta que a Turquia não recebe lições de ninguém sobre a sua história.

Joe Biden e Recep Tayyip Erdogan concordaram reunir-se em junho, paralelamente à cimeira da NATO, em Bruxelas.

Enquanto a conversa entre os dois líderes foi anunciada, na capital da Arménia cerca de 10.000 pessoas marcharam para assinalar o massacre de arménios durante a I Guerra Mundial.

A multidão, carregando tochas, marchou do centro de Erevan até ao memorial dedicado às vítimas, com alguns manifestantes a entoarem canções patrióticas enquanto outros tocaram tambores, relataram jornalistas da agência France Presse no local.

Três dezenas de países, incluindo Portugal, e muitos historiadores classificam o massacre como um genocídio, termo rejeitado com firmeza pela Turquia.

 

Leia Também: Biden planeia reconhecer genocídio arménio e arrisca relações com Turquia

 

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