Deparado com o agravamento da crise migratória que se observa desde 2014, o Governo de Joe Biden assumiu e apresentou nos seus primeiros 100 dias de mandato, que se cumprem esta quinta-feira, diferenças profundas do antecessor, Donald Trump, que criou muros e acabou com políticas de proteção para refugiados.
Nos últimos meses, o fluxo migratório no continente explodiu e, só em março, foram detidos mais de 172 mil migrantes sem documentos, entre os quais quase 19 mil menores, nas fronteiras dos EUA com o México, um número recorde, segundo a administração norte-americana.
O Departamento de Estado de Segurança Interna declarou em março que os Estados Unidos estavam a enfrentar a maior vaga de migrações irregulares dos últimos 20 anos e que as fronteiras com o México estavam fechadas, com a determinação de expulsar os migrantes detidos.
Joe Biden prometeu em várias ocasiões restabelecer a proteção aos migrantes e receber até 125 mil refugiados até final do próximo ano fiscal (fim de setembro de 2022), além de ter criado legislação para apoiar estrangeiros indocumentados que queiram obter residência e cidadania norte-americana.
Apesar das críticas de resposta lenta e falta de melhorias quanto à crise, a nova administração dos EUA, com a vice-presidente Kamala Harris à frente do dossiê das migrações, destaca que pretende estabelecer uma forte política de cooperação com os países de origem dos migrantes, para dar resposta a "impulsionadores agudos" e raízes das migrações.
Segundo Ricardo Zúniga, representante especial dos EUA para o chamado "Triângulo Norte" da América Central (Guatemala, Honduras e El Salvador), de onde provém a maior parte dos migrantes, os Estados Unidos querem "aliviar as condições" que levam milhares de pessoas a arriscar as suas vidas para chegarem a um país com mais oportunidades.
As abordagens colaborativas com outros países para gestão das migrações representaram um ponto de viragem da política seguida pelo anterior Presidente, Donald Trump.
Ainda num esforço para reverter as políticas duras do governo anterior e criar um sistema de imigração "mais humano", Joe Biden ordenou também a mudança na forma como os imigrantes são identificados.
A mudança do termo "illegal alien" (estrangeiro ilegal) para "não-nacional indocumentado" no trabalho das agências de imigração dos Estados Unidos tenta reduzir o estigma negativo sobre os migrantes, que eram recebidos com indignação ou ressentimento pelos nacionais norte-americanos.
Os responsáveis da administração de Joe Biden, do partido Democrata, reconhecem ainda que existem movimentos em massa entre outros países da região, acrescentando que todos os outros governos devem reforçar os sistemas de imigrações e sistemas de proteção.
Em conferência de imprensa na última sexta-feira, o representante especial Ricardo Zúniga disse que os Estados Unidos pretendem ser os colaboradores internacionais mais importantes na "construção de sociedades seguras, prósperas e democráticas".
A administração de Joe Biden e Kamala Harris destaca os objetivos de melhoria das condições económicas nos países de origem, financiamento de programas para organizações internacionais poderem prestarem auxílio ainda antes de chegarem aos EUA, combate à corrupção e aumento da proteção aos migrantes, refugiados e requerentes de asilo.
No dia da tomada de posse, em 20 de janeiro, Joe Biden assinou também o fim do chamado "Muslim Ban", uma ordem executiva instalada por Trump em 2017 que impediu a entrada nos EUA de cidadãos de vários países de maioria muçulmana, principalmente da África.
Mas Biden já foi criticado por apoiantes, por não ter aumentado o número de admissões a refugiados este ano, contando receber 15 mil até final de setembro, o definido por Donald Trump e que representava um recorde mínimo.
Em resposta às críticas, Jen Psaki, a porta-voz do Presidente, declarou que as admissões a refugiados serão mais elevadas, mas só em 15 de maio se saberá qual é o novo limite.
As criticas dos opositores de Biden vão no sentido inverso, acusando-o de estar a "convidar" e encorajar milhares de ilegais a entrar nos EUA, ao relaxar as políticas migratórias do seu antecessor.
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