Ex-secretário confirma que Brasil ignorou carta da Pfizer sobre vacinas
O ex-secretário de Comunicação da Presidência do Brasil, Fábio Wajngarten, disse hoje à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a pandemia que o Governo ignorou por dois meses contactos da Pfizer sobre venda de vacinas contra a covid-19.
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Mundo Covid-19
Em depoimento à investigação parlamentar à resposta do Governo brasileiro à crise sanitária, Wajngarten afirmou que uma carta enviada pela farmacêutica a oferecer vacinas, em 12 de setembro de 2020, ao Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e ao Ministério da Saúde e outros membros do Governo, não recebeu resposta até 09 de novembro, quando tomou conhecimento do documento.
"A carta foi enviada dia 12 de setembro. O dono de um veículo de comunicação [social] me avisa em 09 de novembro que a carta não foi respondida. Nesse momento, envio um 'email' ao presidente da Pfizer. Quinze minutos depois, o presidente da Pfizer no Brasil - eu liguei para Nova Iorque -, me responde. Ele me disse: Fabio, obrigado pelo seu contacto", relatou Wajngarten.
Parlamentares da oposição avaliam que Bolsonaro dificultou a aquisição de vacinas contra a covid-19, nomeadamente da Sinovac e da Pfizer, por defender a tese da chamada imunidade de grupo.
Jair Bolsonaro chegou a insinuar que o imunizante da Pfizer poderia transformar as pessoas em "jacaré" numa conversa com apoiantes antes de o Governo brasileiro decidir comprar a vacina.
Respondendo a uma pergunta do relator da investigação, Renan Calheiros, sobre uma entrevista que Wajngarten deu à revista Veja em que alegadamente acusou a equipa do Ministério da Saúde de ter falhado na negociação da vacina, o antigo secretário foi evasivo e caiu em contradição em diversos momentos, irritando os senadores da CPI.
Wajngarten disse que teve reuniões com a equipa da Pfizer para ajudar na negociação e "destravar burocracias", mas depois negou ter participado das negociações quando foi questionado sobre o número de doses oferecidas ao Brasil.
"Nunca procurei a Pfizer, nunca pedi a reunião, eu nunca nada. Sempre me comportei de forma reativa para acelerar a chegada da melhor vacina naquele momento", declarou, noutro momento.
O ex-secretário de Comunicação participa na CPI na condição de testemunha e, portanto, não pode negar-se a responder ou mentir.
Diferente do que terá dito à revista Veja, Wajngarten também se negou a criticar membros do Governo brasileiro.
Questionado se houve "procrastinação" por parte do Governo brasileiro na aquisição das vacinas da Pfizer, disse aos senadores que não, alegando que o contrato oferecido tinha "cláusulas leoninas".
"Acho que a burocracia, a morosidade na tomada de decisão que é característica da administração pública é um problema nos casos excecionais como a gente tem na pandemia", declarou.
Confrontado com as declarações que alegadamente deu em entrevista à Veja em diversos momentos, Wajngarten foi acusado de mentir pelos parlamentares na sessão, que teve confrontos verbais entre senadores apoiantes e que fazem oposição ao Governo Bolsonaro.
"Se mentiu à Veja e a esta comissão, vou requerer a forma da legislação processual a prisão do depoente", afirmou o relator da investigação, Renan Calheiros.
A pedido do relator, a comissão requisitou a gravação da entrevista de Wajngarten à revista.
O presidente da CPI, Osmar Aziz, também criticou o ex-secretário afirmando que se não fosse objetivo nas respostas a CPI iria "dispensá-lo" da comissão.
"Pediremos à revista Veja que mande a gravação e o chamaremos de novo, não como testemunha, mas como investigado", avisou.
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo ao contabilizar 425.540 vítimas mortais e mais de 15,2 milhões de casos confirmados de covid-19.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.319.512 mortos no mundo, resultantes de mais de 159,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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