Os legisladores democratas Adam Schiff e Eric Swalwell foram informados recentemente pela gigante tecnológica Apple que o Departamento de Justiça norte-americano exigiu, em 2017 e 2018, alguns dos seus dados, na sequência de uma investigação sobre fuga de informações confidenciais.
Membros do Comité de Inteligência da Câmara dos Representantes, os dois eram suspeitos de terem divulgado a jornalistas informações sobre a 'delicada' investigação das suspeitas de conluio entre Moscovo e a administração de Donald Trump, que manchou o início do mandato do presidente republicano, noticia a agência AFP.
Nos Estados Unidos, a fuga de informações confidenciais é ilegal, e os procuradores federais podem emitir mandados de busca e detenção para descobrir a fonte. No entanto, não parece que, até agora, os parlamentares tenham sido alvo deste tipo de abordagem.
"Este é um abuso de poder grosseiro e um ataque à separação de poderes", salientou o líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer, que chamou os antigos ministros da Justiça, Jeff Sessions e Bill Barr, para responderem perante o comité judiciário daquele órgão.
O Inspetor-Geral do Departamento de Justiça também já anunciou uma investigação sobre "o uso pelo Departamento de intimações e outros meios legais para obter informações sobre comunicações de membros do Congresso, ou dos seus parentes, com meios de comunicação".
O caso é ainda mais polémico porque os procuradores tentaram encontrar colaboradores e familiares dos dois homens, incluindo um menor, com a intenção de verificarem se estes teriam emprestado aos suspeitos os seus telefones para entrar em contacto com jornalistas.
Os dados não confirmaram as suspeitas, mas a investigação chegou a ser reiniciada um ano depois e não terminou antes do final da presidência de Donald Trump, que regularmente acusou Adam Schiff de ser autor de fugas de informação.
A somar a isto, o Departamento da Justiça impôs à Apple a não divulgação da investigação, que terminou este ano. Os parlamentares apenas foram informados das investigações no mês passado.
"Não ficaria surpreendido se soubesse que isto aconteceu a outras pessoas", apontou Eric Swalwell, considerando estes "factos inaceitáveis".
Donald Trump procurou "usar o departamento como um 'bastão' contra os seus oponentes políticos e membros da comunicação social", frisou Adam Schiff.
O New York Times, o Washington Post e o canal CNN revelaram recentemente que alguns de seus jornalistas também tiveram problemas com o Departamento de Justiça, que durante a governação de Trump 'lutou' às escondidas para obter contas, correios eletrónicos e históricos de chamadas.
Os governos republicanos e democratas emitiram intimações contra jornalistas no passado para tentarem descobrir as suas fontes.
Após um escândalo em 2013, o Governo de Barack Obama criou novas regras e deu 'luz verde' a altos funcionários do Departamento de Justiça para emitirem qualquer mandato contra jornalistas.
Na semana passada, o Governo liderado pelo atual presidente dos EUA, Joe Biden, assumiu, através da porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, que "convocar jornalistas para investigações sobre fugas de informação políticas não está de acordo com a orientação política do presidente".
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