"Eu acho que a organização continua a fazer sentido, a justificar a sua existência, mas há duas referências que me parecem muito importantes", afirmou à Lusa Domingos Simões Pereira.
A primeira, segundo o antigo secretário executivo, é que se chegou ao final de um ciclo, em que todos os estados-membros já cumpriram um conjunto de competências, e que se deve deixar de "lado a questão de cumprir uma agenda de rotatividade" e "dotar a estrutura organizativa de competências para tomar medidas e implementar projetos que façam sentido".
A segunda, salientou Domingos Simões Pereira, é a de que 25 anos já é uma idade de maturidade e os cidadãos têm a "expectativa de ver a CPLP finalmente materializar um conjunto de ações que vão ao encontro do tal objetivo de ser uma organização de povos e não simplesmente uma organização de Estado".
Questionado sobre o acordo de mobilidade, que deverá ser assinado na cimeira de chefes de Estado e de Governo, que vai decorrer a 16 e 17 de julho, em Luanda, Angola, Domingos Simões Pereira disse que o "único senão" é ficar-se com a impressão de "todos estamos à espera de que algo de extraordinário aconteça".
"Esse extraordinário depende de nós. Se a Guiné quer fazer parte de uma comunidade de estados e de povos que têm essa flexibilidade de se visitar, o que a Guiné-Bissau tem de fazer é abrir-se aos outros países e o mesmo válido para o outro conjunto de países", afirmou Domingos Simões Pereira.
Mas, salientou o antigo secretário executivo, o que se constata é que "todos querem que o outro se abra, poucos se adiantam nessa perspetiva".
Para Domingos Simões Pereira, o desafio é exatamente os estados membros da CPLP conseguirem defender a "perspetiva de abertura" às organizações regionais onde pertencem.
"É isso que vai transformar a CPLP num espaço apetecível e que atraia a atenção da nossa comunidade. Se nos continuarmos a barricar por detrás desses justificativos legais, estruturais, a população começa a ter dificuldades em compreender porquê que a retórica se mantém e os passos não são dados", afirmou.
Sobre a falta de visibilidade da CPLP, Domingos Simões Pereira afirmou que "é preciso fazer algo mais".
"O que digo é que quando fazemos essa constatação invariavelmente olhamos para o secretariado executivo e esperamos que faça mais. Penso que o problema não está a esse nível, o problema está ao nível dos estados que devem ter capacidade de repercutir nas suas políticas internas os acordos e consensos feitos ao nível da CPLP", afirmou.
Domingos Simões Pereira salientou que a CPLP é "muito pesada" e que "não há uma decisão que se possa implementar, que não passe pelo conselho de embaixadores, que precisam do aval do seu país".
O guineense foi secretário executivo da organização entre 2008 e 2012. A CPLP conta com nove Estados-membros: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
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