Afeganistão. EUA querem isolar talibãs caso tomem o poder pela força

O enviado dos EUA ao Afeganistão avisou hoje os talibãs que um Governo que assuma o poder pela força não obterá o reconhecimento internacional, após os insurgentes terem assumido o controlo de diversas cidades nas últimas semanas.

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Lusa
10/08/2021 16:55 ‧ 10/08/2021 por Lusa

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Afeganistão

 

O enviado dos EUA, Zalmay Khalilzad, deslocou-se hoje a Doha, capital do Qatar, onde os talibãs possuem uma representação política, para dizer ao grupo insurgente que não deverá prosseguir os seus avanços no campo de batalha, e que a conquista militar da capital Cabul implicará o seu isolamento a nível internacional.

O enviado norte-americano, e outros intervenientes, esperam persuadir os líderes talibãs a regressarem às conversações com o Governo afegão, e quando os Estados Unidos e as forças da NATO estão a finalizar a sua retirada militar do país asiático.

Os talibãs capturaram sete das 34 capitais provinciais em cerca de uma semana, e prosseguem a sua ofensiva contra o Governo de Cabul, apoiado pelo Ocidente, incluindo em Lashkar Gah, em Helmand, e Kandahar, na província com o mesmo nome.

Após uma presença militar ocidental de 20 anos e biliões de dólares gastos no treino e equipamento das forças afegãs, surgem as interrogações sobre o rápido colapso das forças regulares, com algumas situações em que os soldados fugiram às centenas do campo de batalha, refere a agência noticiosa Associated Press (AP).

Atualmente, os combates estão a cargo de pequenos grupos de forças de elite e da força aérea afegã, ainda apoiados pela aviação norte-americana.

O sucesso da rápida ofensiva talibã tornou mais urgente a necessidade de retomar as conversações, há muito bloqueadas, e que poderão terminar com os combates e garantir no Afeganistão um executivo de transição, com participação das principais fações.

A nova pressão política exercida por Khalilzad segue-se às condenações de diversos responsáveis internacionais e de um aviso similar das Nações Unidas, que excluiu um reconhecimento de um Governo talibã que tome o poder pela força. Até ao momento os talibãs recusaram regressar à mesa das negociações.

Segundo o Departamento de Estado norte-americano, a missão de Khalilzad destina-se a "ajudar a formular uma resposta internacional conjunta à rápida deterioração da situação no Afeganistão".

O enviado de Washington pretende "pressionar os talibãs a terminarem a sua ofensiva militar e negociarem um acordo político, a única forma para a estabilidade e desenvolvimento do Afeganistão", prosseguiu o Departamento de Estado.

Em paralelo, o chefe militar dos talibãs divulgou hoje uma mensagem áudio aos seus combatentes, em que ordena para que não retaliem sobre as forças afegãs e responsáveis oficiais nos territórios que conquistaram.

A gravação foi partilhada a rede social Twitter pelo porta-voz talibã em Doha, Mohammad Naim.

Na mensagem com cerca de cinco minutos, Mohammad Yaqoob, filho do falecido líder talibã 'mullah' Mohammad Omar, também pede aos insurgentes para não ocuparem os edifícios abandonados pelos responsáveis oficiais e pelas forças de segurança em fuga, permitam que os mercados permaneçam em funcionamento e protejam os locais de comércio, incluindo bancos.

Khalilzad, arquiteto do acordo de paz que a ex-administração de Donald Trump firmou com os talibãs, vai manter conversações com os atores regionais e com organizações multilaterais não especificadas, com o objetivo de tentar retomar o diálogo e interromper o imparável avanço talibã.

O enviado dos EUA também procurará obter um compromisso dos vizinhos do Afeganistão e de outros países desta vasta região para que não reconheçam um Governo talibã que assuma o poder pela força.

Quando os talibãs governaram o Afeganistão desde meados da década de 1990 e até 2001, três países reconheceram o seu regime: Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

Responsáveis oficiais afegão também viajaram para Doha, incluindo Abdullah Abdullah, que lidera o conselho de reconciliação governamental.

O conselheiro para a segurança nacional do Paquistão, Moeed Yusuf, apelou na segunda-feira a "esforços revigorados" para que todas as partes do conflito regressem às conversações, e descrevendo uma guerra prolongada no Afeganistão como um "cenário de pesadelo" para o Paquistão.

Em declarações aos 'media' em Islamabad, Yusuf recusou indicar a eventualidade de o Paquistão - que mantém contactos privilegiados com os talibãs - reconhecer um Governo talibã instalado à força, limitando-se a referir que o Paquistão pretende a formação de um Governo "inclusivo" em Cabul.

Leia Também: Reino Unido apela a cidadãos para abandonarem o Afeganistão

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