O secretário-geral da ONU, António Guterres, que foi o primeiro a falar na reunião de emergência do órgão máximo da ONU, expressou as preocupações partilhadas por grande parte da comunidade internacional.
"Temos de falar a uma só voz para defender os direitos humanos no Afeganistão", disse Guterres, acrescentando que estava preocupado, "em particular, com relatos de crescentes violações dos direitos humanos contra mulheres e raparigas no Afeganistão que temem um regresso aos dias mais negros".
O diplomata português também apelou à comunidade internacional para que evite que o terrorismo se enraíze novamente em território afegão e informou que "em grande medida" o pessoal das Nações Unidas presente no país bem como as suas instalações "têm sido respeitados".
"Continuamos a exortar os talibãs a respeitar a integridade das instalações e a inviolabilidade dos diplomatas enviados" e das suas missões, disse Guterres, que destacou o papel das organizações humanitárias na prestação de serviços básicos aos afegãos necessitados.
"A crise humanitária no Afeganistão afeta 18 milhões de pessoas, quase metade da população", afirmou, antes de assegurar a presença das Nações Unidas.
"A presença das Nações Unidas irá adaptar-se à situação de segurança. Mas, acima de tudo, vamos ficar e apoiar o povo afegão", sublinhou o secretário-geral da ONU.
Depois o representante permanente do Afeganistão junto da ONU, Ghulam Isaczai, tomou a palavra para expressar a sua "extrema preocupação" com as promessas e compromissos dos talibãs.
"Temos testemunhado repetidamente como os Talibãs quebraram as suas promessas e compromissos no passado", disse Isaczai.
Citando "imagens chocantes de execuções em massa de pessoal militar pelos talibãs e assassínios de civis em Kandahar e outras grandes cidades", declarou: "Não podemos permitir que isto aconteça em Cabul, que tem sido o último refúgio para muitas pessoas que escapam aos ataques de violência e vingança dos Talibãs".
A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, por seu lado, instou todas as partes a garantirem a partida em segurança dos afegãos e estrangeiros que queiram deixar o país.
"Todos os cidadãos afegãos e cidadãos internacionais que desejem partir devem poder fazê-lo em segurança", disse Thomas-Greenfield, recordando ainda que o Presidente dos EUA Joe Biden "deixou claro que qualquer ação que ponha em perigo o pessoal das missões dos EUA" será "recebida com uma resposta militar rápida e vigorosa".
Quanto ao representante da Rússia no Conselho de Segurança, Vasily Nebenzya, fez, na sua intervenção, uma crítica velada aos EUA, culpando-o pelo seu fracasso em treinar as forças armadas afegãs durante as duas últimas décadas.
O colapso do Afeganistão ocorreu pouco depois de as forças dos EUA e da NATO terem iniciado a fase final da retirada das suas tropas em maio, entregando todas as suas bases militares aos afegãos.
Nebenzya também apelou à calma. "Na situação atual, acreditamos que não faz sentido entrar em pânico".
O embaixador russo, que partilhou os receios de outras nações sobre a possibilidade de um ressurgimento e propagação do terrorismo no Afeganistão, salientou, contudo, que o "principal" da situação atual é que "um banho de sangue generalizado entre a população civil foi evitado".
Ao contrário do embaixador afegão, Nebenzya apelou a um voto de confiança nos talibãs e declarou que o seu governo continuaria a "envolver-se" com eles.
"De acordo com relatórios, os talibãs já tentaram restaurar a lei e a ordem e confirmaram as garantias de segurança para civis e pessoal das missões diplomáticas. Estamos confiantes de que, nas atuais circunstâncias, a segurança do pessoal diplomático será assegurada (...). Nestas circunstâncias, a embaixada russa em Cabul continua a funcionar normalmente", sublinhou.
A reunião de hoje realiza-se um dia depois do Presidente afegão Ashraf Ghani ter fugido do país, precipitando a tomada do poder pelos Taliban em Cabul, acelerando os planos de evacuação do pessoal diplomático estrangeiro já em curso por muitas nações.
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