"Os ministros no executivo entenderam bem por que foram nomeados", referiu Ramaphosa no debate parlamentar por videoconferência, acrescentando que "em áreas de especialidade", nomeia ministros "com base no seu conhecimento e competência".
Ramaphosa nomeou em 05 de agosto uma dezena de novos ministros para o Governo nacional, substituindo os ministros da Defesa, Finanças, Segurança e Saúde, com o objetivo de "melhorar a capacidade do Governo em criar estabilidade e certeza política" no país, após os violentos tumultos e saques em julho, que provocaram mais de 350 mortos.
O líder do Aliança Democrática (DA, na sigla em inglês), principal partido na oposição na África do Sul, John Steenhuisen, questionou nesse sentido o chefe de Estado sobre o "critério" utilizado na seleção dos candidatos para o executivo, referindo-se à "colocação de quadros" do partido no poder, defendida recentemente por Ramaphosa na comissão 'Zondo', que investiga a captura do Estado pela grande corrupção no mandato do ex-Presidente Jacob Zuma.
Sobre a substituição do ex-ministro da Saúde Zweli Mkhize, o Presidente Ramaphosa afirmou aos deputados que este se demitiu e que desde então "prosseguiu com a sua vida".
Zweli Mkhize, que se demitiu minutos antes da comunicação do chefe de Estado ao país do novo executivo, foi alvo de uma investigação sobre contratos irregulares na ordem de 150 milhões de rands (8,8 milhões de euros) no Ministério da Saúde.
No debate parlamentar de hoje, o líder da oposição acusou ainda o ministro da Polícia, Bheki Cele, de "fomentar tensões raciais" no seio das comunidades indiana e africana em Phoenix e nas comunidades vizinhas da região norte da cidade portuária de Durban.
"Não tenho conhecimento de que Cele estaria a fomentar tensões naquela área", refutou o Presidente sul-africano, defendendo a atuação do ministro da Polícia na "unificação" das comunidades residentes na região norte de Durban, província do KwaZulu-Natal, a mais afetada pela violência.
Sobre os tumultos e pilhagens em julho, que afetaram ainda pelo menos 40 mil empresas, incluindo uma centena de negócios portugueses, Ramaphosa afirmou que "o Governo está a assistir as empresas afetadas" no KwaZulu-Natal, litoral, e em Gauteng, motor da economia do país, sem avançar detalhes.
O Presidente adiantou também que o Governo está a prestar "o apoio necessário" às vítimas da violência, sem precisar também detalhes, acrescentando que a expetativa do executivo sul-africano "é colocar o país na trajetória da recuperação económica", após os violentos distúrbios fomentados por elementos afetos ao partido no poder, o Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), do qual Cyril Ramphosa é também presidente.
Sobre a alta taxa de desemprego na África do Sul, o chefe de Estado reconheceu que "o desemprego aumentou no país, sim, é agora 34,5%" e se se contar "com o desemprego alargado é superior a 43% ou 44%".
"Portanto, enfrentamos um grande problema", frisou Ramaphosa, destacando o elevado desemprego entre os jovens, que constituem cerca de um terço da população sul-africana de 58,8 milhões pessoas.
"E mudar a vida dos jovens é o nosso objetivo, dando-lhes esperança, competências, empregos e dando-lhes um futuro", frisou.
O chefe de Estado sul-africano referiu que 12 milhões de pessoas candidataram-se ao subsídio de desemprego de 350 rands (19,5 euros), acrescentando que este será alargado até março do próximo ano.
De acordo com Ramaphosa, o impacto da recente violência no país "reflete os níveis de desemprego e pobreza nas comunidades".
Referindo-se à auditoria financeira do Governo central às municipalidades, em que apenas 27 municípios de um total de 257 apresentaram contas auditadas no ano financeiro de 2019-20, a deputada do ANC Dikeledi Direko questionou o Presidente sobre as ações concretas que o Governo vai implementar para reverter a crise em que se encontra o poder local no país.
"O relatório do auditor-geral sobre o estado das finanças do governo local sublinha a extensão e a profundidade dos desafios enfrentados pela esfera de governação que está mais próxima da vida dos sul-africanos", respondeu Ramaphosa à deputada do seu partido.
"Alguns investidores estão insatisfeitos e optaram por sair [do país] devido à fraca prestação de serviços do governo local", salientou, referindo que é preciso "dar prioridade à governação local por forma a que consiga servir os interesses do povo sul-africano", concluiu o Presidente Ramaphosa no debate parlamentar.
Leia Também: União Africana. Vacinas enviadas de África para a Europa serão devolvidas