"Os EUA entraram no Afeganistão com o pretexto de trazer a paz e a segurança ao país, mas deixaram o país sem segurança, nas mãos de inimigos e quer essa região quer o mundo está agora mais instável", assinalou em declarações à Lusa Jalim Rahimi, presidente do Grupo parlamentar de amizade Irão-Portugal e membro do Comité de Segurança Nacional e de Política Externa do parlamento islâmico iraniano.
O responsável parlamentar, que agora retribui à frente de uma delegação a vista efetuada há dois anos a Teerão pelo Grupo parlamentar de amizade Portugal-Irão, sustentou que após a invasão do Afeganistão pela Rússia, e depois pelos Estados Unidos, se registou "um esforço internacional para estabelecer paz e segurança" e com o Irão, um país vizinho, a colaborar nesse sentido para a reconstrução do país.
Nestes 20 anos, indicou, o interesse consistia em "criar as bases para uma governação estável no Afeganistão", e enquanto vizinhos "pretendemos criar paz e estabilidade" no país.
"Mas após 20 anos de presença militar, os EUA protagonizaram uma retirada muito apressada do Afeganistão, deixaram o Governo cair e também deixaram para trás 120 mil milhões de dólares em armamento de última geração nas mãos dos talibãs", denunciou.
"O nosso receio, como o vosso, é a questão da migração, três milhões de afegãos já migraram para o Irão em busca de paz, estabilidade, segurança, e estamos a fornecer-lhes todos os serviços essenciais, da água aos serviços hospitalares", prosseguiu o deputado, que conclui a deslocação a Lisboa no próximo sábado após quatro dias com diversos encontros oficiais.
"Temos preocupações com o aumento das migrações, do narcotráfico, e o crescimento do Estado Islâmico e do fundamentalismo islâmico", insistiu, ao relembrar que os após a invasão da ex-URSS do Afeganistão, concluída em 1989, "foram os EUA que criaram o terrorismo para combater os russos".
"Armaram vários grupos considerados terroristas, foram eles que criaram a Al-Qaida, e utilizar o terrorismo foi um pretexto que eles próprios fomentaran para fazer frente à Rússia e à China e entrar na região da Ásia Central".
O Irão anunciou o início de manobras militares a partir de sexta-feira na sua fronteira com o Azerbaijão, e que estão a ser encaradas com apreensão por Baku.
Ao abordar este tema, e após recordar que o Irão "tem um poder extraordinário na sua defesa", Jalim Rahimi enfatizou a relação histórica comum de séculos com o Azerbaijão, incluindo a nível religioso e cultural, mas considerou que "ultimamente" o Azerbaijão está a "tomar atitudes que nenhum país vizinho deve tomar".
"E consideramos que essas atitudes têm influência israelita", precisou.
O responsável parlamentar recuou até A Revolução islâmica de 1979 para sublinhar que desde então o Irão nunca invadiu qualquer país, mas defendeu "energicamente" o seu território quando o Iraque atacou o Irão "e não conseguiu apoderar-se nem de um pedaço de território iraniano".
Jalim Rahimi também se referiu ao ataque dos Estados Unidos ao Irão, quando o general Qassem Soleimani foi assassinado em janeiro de 2020 no aeroporto de Bagdad.
"Ripostámos e atingimos várias das bases dos EUA" no Iraque, disse, numa afirmação da capacidade de resposta militar iraniana.
"Mas a nossa relação com o Azerbaijão nada tem a ver com a relação com os Estados Unidos, temos relações históricas e povos em comum. Simplesmente queremos demonstrar o que se passa no Azerbaijão e impedir que as influências de Israel tenham repercussões para nós", justificou.
Numa referência às "atitudes" de Baku, o responsável iraniano manifestou, no entanto, alguma contenção.
"No Mar Cáspio temos fronteira marítimas e partilhamos reservas de petróleo com o Azerbaijão. Não tivemos qualquer interferência na guerra entre a Arménia e o Azerbaijão há um ano. Temos apenas preocupações face a algumas atitudes do Azerbaijão que não são de amizade. A nossa preocupação está relacionada com Israel e as influências que Israel está a ter na região para provocar guerras", concluiu.
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