Segundo o documento, a crise alimentar atinge um nível de emergência e a assistência tem recursos limitados.
"Prevê-se que a crise continue nas áreas afetadas pelo conflito em Cabo Delgado", refere o documento da Rede de Alerta Antecipado de Fome (rede Fews, sigla inglesa), que apoia as ações de agências governamentais e humanitárias.
Embora alguns deslocados "tenham começado a regressar às zonas de origem, as necessidades de assistência alimentar de emergência continuam altas, com mais de 866.000 pessoas a receber assistência alimentar mensal, muito provavelmente, até junho de 2022".
No entanto, devido "aos recursos limitados, o Programa Alimentar Mundial (PAM) continua a fornecer rações mensais equivalentes a 39%" das necessidades energéticas de cada beneficiário, pelo menos até final de outubro", nota o documento.
Este mês, o PAM deverá ainda avaliar a vulnerabilidade de deslocados e comunidades anfitriãs para os apoios serem mais bem direcionados para os necessitados.
Cabo Delgado é a única região em crise no que toca à insegurança alimentar em Moçambique, sendo que "na maior parte do centro e sul do país prevalece uma situação de 'stress', num altura em que a maioria das famílias pobres se prepara para a próxima temporada agrícola".
A próxima campanha deverá beneficiar de "precipitação média ou acima da média em grande parte de Moçambique" de outubro de 2021 a março de 2022 (época das chuvas).
A temporada agrícola terá tendência para resultados acima da média, o que a comprovar-se acontecerá pela segunda vez consecutiva, nota o relatório - cenário que ajudará "a reforçar a armazenagem de alimentos das famílias e os rendimentos do trabalho agrícola", por via da venda de colheitas.
A rede alerta ainda para um risco moderado a alto de inundações localizadas nas bacias dos rios Maputo, Umbeluzi, Incomati, Limpopo, Búzi, Púnguè, Savane e Licungo que "podem resultar em quebras localizadas na produção, dependendo do tempo e extensão da inundação".
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.
Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.
Leia Também: Moçambique não fez pedido ao FMI sobre sustentabilidade da dívida