Simon Coveney também criticou os britânicos por quererem "mudar as regras do jogo", em referência ao ataque do secretário de Estado britânico para as relações com a UE, David Frost, ao Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) por fazer cumprir as leis do mercado único europeu que se aplicam na Irlanda do Norte.
Frost pretende, durante um discurso que vai fazer na terça-feira em Lisboa, pressionar novamente os membros da UE a mostrarem "ambição e vontade", de acordo com um comunicado divulgado na noite de sábado por Downing Street.
O político britânico exigirá grandes mudanças no protocolo da Irlanda do Norte, antes mesmo da divulgação das propostas dos europeus na quarta-feira.
Esta posição não agradou Coveney, que elevou o tom neste fim de semana, criticando Londres por criar uma nova "linha vermelha" para o TJUE.
"David Frost acusa-me de levantar questões nas redes sociais. É um pouco forte, francamente, porque ele está a instruir os meios de comunicação do Reino Unido a dizerem: 'Bem, a UE pode fazer as mudanças que deve fazer, mas na verdade não é o suficiente, nós queremos mais'", e agora é o TJUE que é o principal problema, disse Coveney à estação de televisão irlandesa RTE.
"Em toda a União Europeia, isso é visto como o mesmo esquema repetido diversas vezes. A UE tenta resolver problemas, o Reino Unido rejeita soluções antes mesmo de serem anunciadas e pede mais", declarou Coveney, visivelmente irritado.
Coveney alertou que "em algum momento a UE dirá 'chega'".
"Acredito que agora estamos muito próximos desse momento", sublinhou.
Por seu lado, o Governo britânico negou ter mudado de posição. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, aceitou o papel do TJUE em 2019 "com o espírito de compromisso em circunstâncias difíceis", disse hoje o seu porta-voz aos jornalistas.
Mas hoje, "simplesmente não é viável para a UE fazer leis que se aplicam à Irlanda do Norte sem qualquer tipo de escrutínio ou discussão democrática", disse o porta-voz.
"É inédito um acordo bilateral ser fiscalizado pelos tribunais de uma das outras partes", acrescentou o porta-voz.
Em causa está o acordo do 'Brexit' negociado pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, em 2019, no qual decidiu que, ao sair da União Europeia, o Reino Unido deixaria também a união aduaneira da UE, o que aconteceu em 1 de janeiro.
No entanto, ao abrigo do Protocolo da Irlanda do Norte, a província britânica continua a aplicar normas e controlos aduaneiros da UE, incluindo em certos produtos que chegam do resto do Reino Unido.
Esta parte do acordo foi negociada após mais de três anos de discussões sobre como evitar o controlo de mercadorias ao longo da fronteira terrestre entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda.
Londres alega que as novas regras estão a causar dificuldades inesperadas no fluxo de mercadorias e quer que não se apliquem àquelas que se destinarem exclusivamente ao mercado norte-irlandês, pois é território britânico.
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