África. Instrumentos regionais vão mitigar alterações climáticas
O diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC) defendeu hoje que os instrumentos sanitários regionais são fundamentais para mitigar os impactos das alterações climáticas, nomeadamente no continente africano.
© Lusa
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"O nosso apelo é que a cooperação e a solidariedade globais são importantes, as tendências das doenças têm de ser centrais nas discussões sobre o clima, que vão decorrer nos próximos dias, mas é preciso fortalecer os instrumentos regionais, porque é através deles que trabalhamos de perto com as populações e isso depois encaixa-se na arquitetura global", disse John Nkengasong durante a conferência de imprensa semanal sobre a evolução da pandemia de covid-19 no continente africano.
Questionado sobre o que espera da reunião que começa no domingo em Glasgow, o diretor do África CDC lembrou que a tendência da evolução das doenças está muito ligada às alterações climáticas, nomeadamente o aquecimento global, e apontou que "há muito poder numa abordagem regional" a estas questões.
"Acreditamos que há muito poder no regionalismo, a evidência mostra que com esforços coordenados conseguimos atingir objetivos regionais que depois sobem na pirâmide para surtirem uma mudança global", disse Nkengasong.
A nova ordem de saúde que o responsável defende passa "primeiro por fortalecer os institutos nacionais, depois produzir regionalmente meios de diagnóstico, vacinas e produtos farmacêuticos" e lamentou que apesar de o continente fazer 100 milhões de testes ao HIV, não haja uma única empresa africana a produzir estes testes rápidos no continente.
"Em terceiro lugar, temos de desenvolver a força de trabalho e, por último, temos de voltar à Declaração de Abuja e comprometer, de facto, 15% do nosso financiamento doméstico para prioridades de saúde; isto não resolve os problemas, mas garante uma fundação para alavancar as doações dos parceiros internacionais", afirmou John Nkengasong, acrescentando também que as parcerias feitas com respeito e em alinhamento com a Agenda 2063 são importantes.
"Só os africanos podem fazer ecoar as suas posições na plataforma mundial, não espero que ninguém de fora vá defender as nossas posições, e para preparar o continente para a próxima pandemia, que é uma questão de tempo, temos de ganhar o combate à covid-19 antes de começar a combater a próxima", concluiu.
Milhares de especialistas, ativistas e decisores políticos reúnem-se a partir de domingo em Glasgow na 26.ª cimeira da ONU sobre alterações climáticas (COP26), com o objetivo principal de travar o aquecimento do planeta.
As alterações climáticas são, segundo o secretário-geral da ONU, António Guterres, o maior problema da humanidade, e vão afetar dramaticamente o futuro se nada de substancial for feito.
As emissões de gases com efeito de estufa, que os países tentaram controlar no Acordo de Paris de 2015, mas que continuam a aumentar, estão já a afetar o clima e a natureza das mais diversas formas, segundo os cientistas.
Em África, as necessidades energéticas estão estimadas em 700GW, o que é 4.000 vezes mais do que os 175GW de capacidade eólica e solar que o mundo inteiro adicionou em 2020, por isso "África não se pode industrializar recorrendo apenas à energia solar e eólica", apontam os economistas.
Dos 1,3 mil milhões de africanos, 600 milhões não têm acesso a eletricidade e a Agência Internacional da Energia estima que o número suba 30 milhões devido à pandemia de covid-19.
Há 48 países na África subsaariana, excluindo a África do Sul, que emitem apenas 0,55% das emissões de CO2, mas sete dos dez países mais vulneráveis às alterações climáticas estão nesta região.
O Banco Africano de Desenvolvimento estima que as necessidades financeiras destes países para acomodarem as alterações climáticas ronda os 7 a 15 mil milhões de dólares por ano, ou seja, entre 6 e 13 mil milhões de euros.
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