"A situação está a ser enfrentada com a mobilização interna de todos os recursos financeiros e de pessoal necessários para as ações de assistência à população afetada, os quais se têm mostrado, até este momento, suficientes", explicou o Ministério das Relações Exteriores do Brasil através de uma nota enviada ao Governo de Buenos Aires.
Pelo menos 21 pessoas morreram devido às fortes chuvas que atingiram o estado brasileiro da Bahia.
O Brasil alega que pode tratar das consequências das fortes chuvas que atingiram o estado da Bahia sem ajuda externa e que caso haja "necessidades suplementares, poderá vir a aceitar a oferta argentina".
"Na hipótese do agravamento da situação, requerendo-se necessidades suplementares de assistência, o Governo brasileiro poderá vir a aceitar a oferta argentina de apoio da Comissão Capacetes Brancos, cujos trabalhos são amplamente reconhecidos", concluiu a diplomacia brasileira.
'Capacetes Brancos' é o organismo do Governo argentino responsável pela assistência humanitária do país a outras nações.
A resposta negativa foi também dirigida ao governador da Bahia, Rui Costa, que tinha apelado ao Governo Federal para que autorizasse o envio de uma missão humanitária da Argentina.
"A missão argentina aguarda a autorização do Ministério das Relações Exteriores para que possam vir à Bahia. Agradeço aos argentinos e peço ao Governo Federal celeridade na autorização para a missão estrangeira", pediu o governador da Bahia através das redes sociais.
Na segunda-feira (27), através de uma nota oficial do Ministério das Relações Exteriores, a Argentina formalizou o oferecimento de ajuda ao estado da Bahia que consistia no envio imediato de 10 profissionais especializados em áreas de água, saneamento, logística, armazenamento de doações e contenção psicossocial às vítimas.
Intitulada "Argentina pôs à disposição a Comissão 'Capacetes Brancos' para colaborar na catástrofe da Bahia no Brasil", o Governo argentino explicou que, através da embaixada argentina em Brasília, enviou três notas: uma à Agência Brasileira de Cooperação (ABC), outra ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil e uma terceira ao Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (CENAD).
Ao mesmo tempo, o consulado argentino em Salvador, capital da Bahia, transmitiu a oferta de ajuda ao governador da Bahia, Rui Costa.
A rejeição do chefe de Estado brasileiro, Jair Bolsonaro, acontece dias depois da visita do ex-presidente Lula da Silva à Argentina. Lula foi recebido em Buenos Aires com honras de chefe de Estado e o Governo argentino tratou o brasileiro como próximo Presidente do Brasil nas eleições de outubro de 2022.
Lula e Bolsonaro tendem a polarizar a próxima campanha eleitoral. O governador da Bahia, Rui Costa, é do Partido dos Trabalhadores, de Lula, maior inimigo de Bolsonaro.
Porém, esta não foi a primeira vez que o Governo Bolsonaro rejeitou ajuda humanitária da Argentina. Em 2019, no auge dos incêndios na Amazónia, o Brasil rejeitou 200 elementos altamente capacitados no combate a incêndios florestais alegando não precisar de ajuda.
"Durante a Operação Verde Brasil, ocorrida de 24 de agosto a 24 de outubro, os efetivos mobilizados das Forças Armadas e dos bombeiros brasileiros foram suficientes para o cumprimento da missão", informou então o Ministério da Defesa do Brasil em nota à Lusa, com argumentos semelhantes aos de agora, em relação à tragédia na Bahia.
Em 22 de agosto, o então Presidente argentino, Mauricio Macri (2015-2019), telefonou a Jair Bolsonaro para lhe oferecer a ajuda especializada argentina no combate aos incêndios na Amazónia. Na ocasião, Macri disse estar "alarmado e comovido" com os incêndios que tinham aumentado 84% no período em relação ao ano anterior.
Pelo lado do Exército, outros cem homens preparavam-se para ajudar o Brasil, mas, devido à rejeição brasileira, embarcaram à Bolívia, onde também havia incêndios.
Apesar de negar a ajuda argentina, "o Brasil recebeu auxílio de quatro aeronaves de combate a incêndios ofertadas pelo Chile; de um pequeno grupo de peritos dos Estados Unidos; de um grupo de bombeiros israelitas que foram em busca de troca de experiências com os bombeiros brasileiros; e do Japão, que doou barracas e colchões", informou a nota do Ministério da Defesa do Brasil à Lusa.
A atual situação na Bahia é consequência do maior acumulado de chuva no mês de dezembro nos últimos 32 anos. Segundo a Superintendência de Proteção e defesa Civil (SUDEC), 91.258 pessoas estão desabrigadas e 629.398 foram afetadas pela chuva. Os feridos somam 434. Até agora, 136 cidades do estado no Nordeste brasileiro estão sob situação de emergência.
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