Milhares de sérvios bósnios assistiram às celebrações dos 30 anos da proclamação da "República dos sérvios da Bósnia" em 09 de janeiro de 1992, três meses antes do início da guerra civil (1992-1995) que provocou cerca de 100.000 mortos e milhões de deslocados.
Nesse período, a liderança política dos sérvios bósnios, então liderados por Radovan Karadzic, opunha-se à secessão da Bósnia, uma república da extinta Jugoslávia, defendida por croatas e muçulmanos (bosníacos) locais, e na sequência das independências unilaterais da Eslovénia e Croácia em 1991.
Cerca de 2.700 pessoas, incluindo mais de 800 membros das forças policiais da RS, participaram domingo no desfile que percorreu o centro de Banja Luka (norte), a principal cidade desta entidade autónoma e com anseios separatistas.
A UE "condena fortemente a retórica negativa, provocatória e fonte de divisão utilizada pelos dirigentes da RS durante as celebrações", indica um comunicado de Peter Stano, o porta-voz para a política externa.
Estas ações "agravam ainda mais a atual crise política" e "não estão em conformidade" com o objetivo declarado do país em aderir a prazo à UE, sublinha.
"Os dirigentes da RS devem contribuir para pôr termo à inquietante tendência de ódio e intolerância", precisa a declaração.
"Isso deve incluir o fim da glorificação dos criminosos de guerra e a negação da glorificação dos seus crimes", adianta.
Milorad Dodik, o membro sérvio da presidência colegial da Bósnia-Herzegovina, desencadeou recentemente um processo de retirada da RS de diversas instituições do Estado central bósnio (exército, justiça e impostos), motivando acérrimas críticas dos Estados Unidos que anunciaram novas sanções financeiras contra este dirigente político, antiga aposta dos ocidentais na região, mas agora considerado "pró-russo".
"Sabemos que não existe liberdade para o povo sérvio caso não possua o seu próprio Estado", referiu Dodik no seu discurso de domingo, durante as celebrações.
"É a vós que eu devo obedecer. Fui eleito em vosso nome, não para fazer o que os americanos querem, mas aquilo que o povo quer", afirmou ainda.
Após assinatura do Acordo de Dayton em finais de 1995, a Bósnia-Herzegovina foi fraturada em duas entidades na sequência do Acordo de Dayton, unidas por um frágil Estado central cujos poderes têm vindo a ser reforçados nos últimos anos.
Na prática, e mais de 25 anos após o fim da guerra civil, o país balcânico com 3,3 milhões de habitantes permanece um protetorado internacional, com fortes poderes decisórios atribuídos ao alto representante que supervisiona e coordena a aplicação dos aspetos civis do Acordo de Dayton.
Em agosto passado, foi designado para este cargo Christian Schmidt, 63 anos, ex-ministro da Agricultura da Alemanha pelo partido democrata-cristão bávaro CSU.
Em novembro passado, Schmidt já se pronunciou contra as intenções da liderança dos sérvios bósnios. Em paralelo, o Governo de Berlim também ameaçou com a aplicação de sanções à RS e ao seu líder.
As tensões na Bósnia aprofundaram-se em julho passado, quando Valentin Inzco, o antecessor de Schmidt, proibiu por lei a negação do "genocídio de Srebrenica", uma definição que os sérvios bósnios rejeitam.
A RS reagiu e aboliu essa lei no seu território e impôs o boicote dos seus líderes à presidência, parlamento central e conselho de ministros da Bósnia-Herzegovina, enquanto também se têm aprofundado as divergências na Federação entre coatas e bosníacos, que integram a segunda entidade reconhecida no acordo de Dayton.