Os militares, que chegaram ao poder através de um golpe de Estado em agosto de 2020, revogaram um compromisso inicial de realizar eleições em fevereiro de 2022, plebiscito que teria trazido os civis de regresso ao poder.
Os militares malianos anunciaram a intenção de manter durante mais alguns anos o leme do país, mergulhado numa grave e prolongada crise política e de segurança, e a CEDEAO respondeu em 9 de janeiro último com a imposição de uma série de severas sanções diplomáticas e económicas contra o Mali.
"A postura das autoridades militares de transição sugere claramente um desejo de permanecer no poder por mais de cinco anos", sublinha a CEDEAO numa carta enviada a Bamako e hoje divulgada.
Os líderes da organização da África Ocidental reiteram a esperança de que as autoridades militares do Mali forneçam "um calendário razoável e realista" para a realização de eleições e sublinham que "as sanções serão levantadas progressivamente com base neste calendário e na sua aplicação diligente e satisfatória", segundo a missiva.
Esta carta é divulgada no mesmo dia em que os líderes da CEDEAO vão realizar uma cimeira virtual sobre a situação no Burkina Faso, onde, também aí, oficiais do exército destituíram o Presidente Roch Marc Christian Kaboré na passada segunda-feira.
As sanções da CEDEAO impostas ao Mali passam pelo encerramento das fronteiras dos seus Estados-membros com o país, um embargo ao comércio (com exceção de bens de primeira necessidade) e às transações financeiras, assim como a suspensão da ajuda financeira e congelamento dos ativos malianos no Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO).
Esta bateria de sanções deverá pesar significativamente sobre a já frágil economia do Mali, um país encravado entre vários dos países mais pobres do mundo, e onde uma insurreição 'jihadista' faz caminho desde 2012.
Grandes partes do vasto território do Mali estão fora do controlo das autoridades em Bamako.
Esta quinta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Yves Le Drian, denunciou o comportamento "irresponsável" da junta militar do Mali, que exigiu a retirada das forças dinamarquesas do país.
As forças francesas e europeias "assim, não podem ficar" no Mali e estão atualmente a examinar como "adaptar o seu mecanismo" para combater os 'jihadistas' na região, afirmou hoje Le Drian.
"Iniciámos discussões com os nossos parceiros africanos e europeus para perceber como podemos adaptar o nosso sistema à nova situação no Mali", afirmou o ministro francês em declarações à estação de rádio RTL, citadas pela agência France-Presse.
No ano passado, a França anunciou uma redução das suas forças destacadas no Mali, ao mesmo tempo que era criado um grupo de forças especiais europeias, que recebeu o nome de Takuba.
Mas as relações com a junta militar maliana têm-se deteriorado, e a exigência feita por Bamako a Copenhaga para fazer regressar à Dinamarca o seu contingente de cerca de uma centena de efetivos, mal acabados de aterrar no Mali, é apenas o último incidente.
"Os generais no poder enviaram uma mensagem clara de que a Dinamarca não é bem-vinda no Mali. Não aceitamos isto e por esta razão decidimos trazer os nossos soldados para casa", anunciou esta quinta-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros dinamarquês, Jeppe Kofod, no final de uma reunião no Parlamento em Copenhaga.
"Estamos lá a convite do Mali. Os generais golpistas - num jogo político sujo - retiraram o convite", porque "não querem um plano rápido de regresso à democracia", acrescentou Kofod.
A comunidade internacional também está preocupada com a presença em solo maliano de paramilitares do grupo mercenário russo Wagner, cada vez mais presente em África.
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