Telefone e redes sociais: A eficaz arma de Zelensky contra os russos

Comunicação do presidente ucraniano com o povo e os aliados tem sido uma mais-valia no combate à invasão russa.

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Marta Ferreira
28/02/2022 13:02 ‧ 28/02/2022 por Marta Ferreira

Mundo

Guerra na Ucrânia

Um homem normal que 'brincou aos presidentes' quando era comediante e hoje é presidente da Ucrânia com uma missão: defender o seu país. Volodymyr Zelensky tornou-se nos últimos tempos um líder de guerra admirado por muitos, mas que armas possui Zelensky no seu arsenal comunicativo? 

O presidente ucraniano é um caso de ficção catapultada para a vida real. Foi na série televisiva 'Ao Serviço do Povo' (tradução literal), uma sátira política ucraniana na qual interpretava um professor que se tornou presidente, que ficou conhecido. 

Em 2019, o ator, tal como a sua personagem, tornou-se presidente da Ucrânia. Hoje tem duas armas para travar o avanço russo no seu país: o telefone e as redes sociais. 

A comunicação do presidente ucraniano tornou-se a sua mais-valia e é nisso que Zelensky tem apostado 'todas as fichas'. 

O telefone

A partir de Kiev, mas com os olhos postos no Ocidente para conseguir ajuda. Numa série de telefonemas, o presidente da Zelensky conseguiu convencer o Ocidente a concordar com um conjunto de sanções contra a Rússia que eram inconcebíveis até há uma semana. 

As chamadas com os aliados e a comunicação eficaz do presidente levaram a que a opinião pública europeia se colocasse, em força, do lado da Ucrânia. 

Só no sábado, a odisseia do presidente passou por conversações com o presidente francês, Emmanuel Macron, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, o presidente da Suíça, Ignazio, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, o secretário-geral da ONU, António Guterres, o chanceler alemão, Olaf Scholz, o Pope, o primeiro-ministro tcheco, Petr Fiala, o presidente polonês, Andrzej Duda, e, finalmente, uma chamada virtual com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. 

Isto não foi uma situação de um só dia. Na sexta-feira, segundo dia de invasão, o número de telefonemas foi semelhante.

Pedidos de armas e sanções mais duras foram a receita que levou à ação da Europa. Entre chamadas, Zelensky ainda reuniu a frente de batalha, dirigiu o exército e dormiu, não muito possivelmente.

Quem o ouviu em ação diz: “Ele é muito direto, muito apaixonado e muito prático”. Mas as ligações produziram recompensas de ouro para Zelenskiy e ajudaram a virar a maré.

O ritmo a que Zelensky tem conseguido mobilizar todos a seu favor tem surpreendido e, segundo a análise feita pelo The Guardian, o ucraniano pode até não conseguir salvar Ucrânia, mas é certo que está a mudar a Europa. 

As redes sociais

As redes sociais têm sido outra das armas do outrora comediante para comunicar com o seu povo e com o exterior. 

Seja através do Twitter, Facebook, em mensagens de texto ou vídeo, o presidente mostra-se imparável na sua estratégia. 

Após telefonemas com os líderes ocidentais, Zelenskiy não para e usa as redes sociais para persuadir, encorajar, repreender ou elogiar os seus aliados.

Fê-lo, por exemplo, com o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa. Ontem, após conversar com o chefe de Estado de Portugal, o presidente ucraniano publicou um tweet sobre esta conversa sublinhando "Juntos - mais fortes". 

A proximidade como estratégia de comunicação

Jelani Cobb, escrito e professor universitário americano, fez uma análise à forma como Zelensky tem comunicado e como se apresenta às pessoas, abordando em específico o vídeo publicado pelo mesmo nas redes sociais. 

"Estou curioso: exatamente o que acha que torna este vídeo de Zelensky uma comunicação política tão eficaz? Tenho minhas teorias, mas estou curioso sobre as suas", começou por escrever. 

Logo depois dá conta da sua visão apontando para a estratégia de proximidade usada pelo chefe de Estado ao se filmar como se estivesse a tirar uma selfie e à compostura do mesmo. "Estou, sobretudo, fixado na absoluta compostura e determinação diante de um certo perigo. A simplicidade desta afirmação 'Estamos aqui' é perfeita. E é literalmente um vídeo de um homem na rua", descreve.

Logo depois conclui a sua análise indicando que "as pessoas que apontaram para o facto de ele estar a fazer uma selfie [a forma como o presidente gravou o vídeo] também estão no caminho certo".

"É o tipo de formato que alguém pode usar para um vídeo na praia ou numa festa. 'Estamos todos aqui!', exceto que aqui eles estão a dizer 'Todos lutaremos até à morte'. Impressionante", detalha.

Recorde-se que estão hoje a decorrer as negociações entre as delegações da Ucrânia e Rússia, na fronteira entre a Ucrânia e a Bielorrússia.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apelou aos soldados russos para que deponham as armas, numa mensagem divulgada antes das conversações com Moscovo, em que Kiev exige a retirada das forças russas.

Depois de se ter negado, inicialmente, a encontrar-se com uma comitiva russa em território bielorrusso, o presidente ucraniano acabou por ceder. Apesar disso, confessou não ter esperanças de este encontro possa trazer grandes alterações ao conflito que está a pôr os dois países em guerra.

Leia Também: Zelensky reitera pedido para adesão ucraniana à UE "sem demora"

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