Telefone e redes sociais: A eficaz arma de Zelensky contra os russos
Comunicação do presidente ucraniano com o povo e os aliados tem sido uma mais-valia no combate à invasão russa.
© Getty Images
Mundo Guerra na Ucrânia
Um homem normal que 'brincou aos presidentes' quando era comediante e hoje é presidente da Ucrânia com uma missão: defender o seu país. Volodymyr Zelensky tornou-se nos últimos tempos um líder de guerra admirado por muitos, mas que armas possui Zelensky no seu arsenal comunicativo?
O presidente ucraniano é um caso de ficção catapultada para a vida real. Foi na série televisiva 'Ao Serviço do Povo' (tradução literal), uma sátira política ucraniana na qual interpretava um professor que se tornou presidente, que ficou conhecido.
Em 2019, o ator, tal como a sua personagem, tornou-se presidente da Ucrânia. Hoje tem duas armas para travar o avanço russo no seu país: o telefone e as redes sociais.
A comunicação do presidente ucraniano tornou-se a sua mais-valia e é nisso que Zelensky tem apostado 'todas as fichas'.
O telefone
A partir de Kiev, mas com os olhos postos no Ocidente para conseguir ajuda. Numa série de telefonemas, o presidente da Zelensky conseguiu convencer o Ocidente a concordar com um conjunto de sanções contra a Rússia que eram inconcebíveis até há uma semana.
As chamadas com os aliados e a comunicação eficaz do presidente levaram a que a opinião pública europeia se colocasse, em força, do lado da Ucrânia.
Só no sábado, a odisseia do presidente passou por conversações com o presidente francês, Emmanuel Macron, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, o presidente da Suíça, Ignazio, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, o secretário-geral da ONU, António Guterres, o chanceler alemão, Olaf Scholz, o Pope, o primeiro-ministro tcheco, Petr Fiala, o presidente polonês, Andrzej Duda, e, finalmente, uma chamada virtual com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
Isto não foi uma situação de um só dia. Na sexta-feira, segundo dia de invasão, o número de telefonemas foi semelhante.
Pedidos de armas e sanções mais duras foram a receita que levou à ação da Europa. Entre chamadas, Zelensky ainda reuniu a frente de batalha, dirigiu o exército e dormiu, não muito possivelmente.
Quem o ouviu em ação diz: “Ele é muito direto, muito apaixonado e muito prático”. Mas as ligações produziram recompensas de ouro para Zelenskiy e ajudaram a virar a maré.
O ritmo a que Zelensky tem conseguido mobilizar todos a seu favor tem surpreendido e, segundo a análise feita pelo The Guardian, o ucraniano pode até não conseguir salvar Ucrânia, mas é certo que está a mudar a Europa.
As redes sociais
As redes sociais têm sido outra das armas do outrora comediante para comunicar com o seu povo e com o exterior.
Seja através do Twitter, Facebook, em mensagens de texto ou vídeo, o presidente mostra-se imparável na sua estratégia.
Após telefonemas com os líderes ocidentais, Zelenskiy não para e usa as redes sociais para persuadir, encorajar, repreender ou elogiar os seus aliados.
Fê-lo, por exemplo, com o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa. Ontem, após conversar com o chefe de Estado de Portugal, o presidente ucraniano publicou um tweet sobre esta conversa sublinhando "Juntos - mais fortes".
A proximidade como estratégia de comunicação
Jelani Cobb, escrito e professor universitário americano, fez uma análise à forma como Zelensky tem comunicado e como se apresenta às pessoas, abordando em específico o vídeo publicado pelo mesmo nas redes sociais.
"Estou curioso: exatamente o que acha que torna este vídeo de Zelensky uma comunicação política tão eficaz? Tenho minhas teorias, mas estou curioso sobre as suas", começou por escrever.
I’m curious: what exactly do you think makes this Zelensky video such effective political communication? I have my theories but I’m curious about yours.
— jelani cobb (@jelani9) February 26, 2022
Logo depois dá conta da sua visão apontando para a estratégia de proximidade usada pelo chefe de Estado ao se filmar como se estivesse a tirar uma selfie e à compostura do mesmo. "Estou, sobretudo, fixado na absoluta compostura e determinação diante de um certo perigo. A simplicidade desta afirmação 'Estamos aqui' é perfeita. E é literalmente um vídeo de um homem na rua", descreve.
Logo depois conclui a sua análise indicando que "as pessoas que apontaram para o facto de ele estar a fazer uma selfie [a forma como o presidente gravou o vídeo] também estão no caminho certo".
"É o tipo de formato que alguém pode usar para um vídeo na praia ou numa festa. 'Estamos todos aqui!', exceto que aqui eles estão a dizer 'Todos lutaremos até à morte'. Impressionante", detalha.
Recorde-se que estão hoje a decorrer as negociações entre as delegações da Ucrânia e Rússia, na fronteira entre a Ucrânia e a Bielorrússia.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apelou aos soldados russos para que deponham as armas, numa mensagem divulgada antes das conversações com Moscovo, em que Kiev exige a retirada das forças russas.
Depois de se ter negado, inicialmente, a encontrar-se com uma comitiva russa em território bielorrusso, o presidente ucraniano acabou por ceder. Apesar disso, confessou não ter esperanças de este encontro possa trazer grandes alterações ao conflito que está a pôr os dois países em guerra.
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