Analista considera que Rússia continuará a expandir influência em África

A Rússia vai continuar a expandir a sua influência junto dos parceiros africanos, procurando maximizar apoios em países como Angola, que, no entanto, mantém portas abertas no mundo ocidental, estima um analista do Centro Africano de Estudos Estratégicos (CAEE).

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Lusa
16/03/2022 18:01 ‧ 16/03/2022 por Lusa

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"Vamos continuar a ver a Rússia a expandir a sua influência em África porque encontra aí parceiros disponíveis, estando mais isolada a Rússia vai tentar maximizar todos os apoios que conseguir", disse Joseph Siegle, responsável do programa de pesquisa do CAEE, instituição ligada ao Departamento de Defesa norte-americano e direcionada para os estudos sobre questões de segurança em África.

Joseph Siegle considera que este "é um período de teste e introspeção" sobre as relações entre África e a Rússia, servindo também como um alerta, "uma demonstração clara de que a Rússia não se rege pelas regras do Estado de direito".

"O aprofundamento das relações entre os países africanos e a Rússia tem um elevado nível de risco, temos visto que estas relações são normalmente ao nível das elites, não se trata de investimento russo em África, que representa menos de 1% do investimento estrangeiro direto, inferior ao das Maurícias", observou.

Segundo o especialista, "o que a Rússia tem feito é cooptar os líderes das elites, que são vulneráveis, carecem de legitimidade e muitas vezes estão isolados" e, "por isso, veem com bons olhos o apoio russo", a nível político e de defesa.

No entanto, sublinhou, a Rússia não é um grande potentado económico que vai ajudar estes países a lidar com os seus desafios económicos até porque a economia russa tem estado a declinar.

"A atratividade pela Rússia vai diminuir, exceto para os líderes que queiram desenvolver uma relação assente no clientelismo", considerou o responsável do CAEE.

No caso de Angola, que se mantém próxima da Rússia e da China, as relações com o ocidente têm sido "flutuantes", mas o especialista acredita que a porta se mantém aberta se o país quiser construir laços mais fortes com o mundo ocidental.

 "Tanto o ex-presidente José Eduardo dos Santos, como João Lourenço se mostraram relutantes em engajar-se de forma plena com o ocidente, penso que é a Angola que cabe determinar para onde irá conduzir essa relação", salientou Siegle, acrescentando que um maior envolvimento com o ocidente exige também "mais transparência e empenho no Estado de direito, em termos contratuais, e a nível de cooperação elevando padrões internacionais".

Para Joseph Siegle, o impacto do conflito sobre o preço dos combustíveis pode ser também uma oportunidade para África aprofundar as suas parcerias e relações comerciais com a Europa, Estados Unidos da América ou outros países que agora têm um papel secundário, mas é preciso aumentar a confiança dos investidores.

"Os investidores ocidentais precisam de ter confiança que haverá estabilidade em Angola, estabilidade em termos de leis e de respeito pelo Estado de direito, porque se trata de investimentos de longo prazo e, neste momento, não é claro se o executivo de João Lourenço está totalmente empenhado nisso", afirmou.

O investigador apontou também as mudanças a nível dos mercados energéticos, com tendência para se afastarem dos hidrocarbonetos a favor de energias renovais, como outro dos desafios.

"Os países africanos ricos em hidrocarbonetos não podem assumir que o mundo vai continuar a vir ter com eles. No curto prazo, há excesso de procura, mas no médio longo prazo vai declinar e os fornecedores devem continuar a ser um parceiro atrativo", declarou.

Angola, onde os embaixadores europeus expressaram publicamente a sua solidariedade com a Ucrânia, foi um dos 35 países que se abstiveram do voto na resolução da ONU que condenou a invasão russa e que contou com o apoio de 141 dos 193 Estados-membros das Nações Unidas, entre os quais Portugal.

Joseph Siegle salientou que os países africanos não se dividem apenas em dois campos na sua relação com a Rússia, e por isso se expressaram de maneira diferente.

Alguns fortemente alinhados com a Rússia, sobretudo os mais dependentes em termos militares, apoiaram e vão continuar a apoiar o país, outros caminharam por uma via mais independente numa lógica de não alinhamento, outros juntaram-se à condenação internacional.

"Os países africanos não devem ter de escolher lados e não precisam, é perfeitamente razoável que tenham múltiplos parceiros externos, porque têm diferentes interesses. No meu entender, a grande questão que se coloca é se vão atuar segundo as regras do Estado de direito, que visão têm para o mundo, para África, para a ordem mundial", acrescentou o investigador.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou pelo menos 726 mortos e mais de 1.170 feridos, incluindo algumas dezenas de crianças, e provocou a fuga de cerca de 4,8 milhões de pessoas, entre as quais três milhões para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

 

RCR // LFS

Lusa/fim

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