O jornal alemão Die Welt anunciou esta segunda-feira ter contratado Marina Ovsyannikova, a jornalista russa que protestou contra a ofensiva militar de Moscovo na Ucrânia, ‘invadindo’ uma emissão da televisão estatal do país.
A jornalista de 43 anos contribuirá para edição impressa e televisiva do jornal, reportando a partir da Ucrânia, da Rússia e de “outros locais”, avançou a AFP.
Ulf Poschardt, editor-chefe do Die Welt, elogiou a coragem da jornalista “num momento decisivo”, considerando que “defendeu as virtudes jornalísticas mais importantes – apesar da ameaça da repressão do estado”.
Ovsyannikova, por sua vez, afirmou que o Die Welt “representa aquilo que está a ser defendido tão veementemente pelas pessoas corajosas na Ucrânia: a liberdade”.
Na sua primeira rubrica no jornal, Ovsyannikova explica o porquê da sua intervenção na televisão estatal russa e o impacto da propaganda do Kremlin na população, dizendo que “os russos [têm] medo”.
Recorde-se que a jornalista, filha de pai ucraniano e mãe russa, entrou no estúdio da televisão estatal russa durante o noticiário Vremya (Tempo), do Canal 1, onde era editora, mostrando, atrás da 'pivot', um cartaz contra a guerra na Ucrânia.
"Não à guerra. Ponham fim à guerra. Não acreditem na propaganda. Aqui, estão a mentir-vos. Russos contra a guerra", lia-se.
Após o protesto, a jornalista foi detida e submetida a um interrogatório de 14 horas, sendo obrigada a pagar uma multa de 30 mil rublos (cerca de 337,93 euros).
A jornalista anunciou depois ter deixado o emprego no canal russo, recusando, contudo, a oferta de asilo do presidente francês, Emmanuel Macron, justificando querer permanecer na Rússia.
O protesto foi elogiado pela comunidade internacional, assim como pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que, num discurso, agradeceu a coragem da jornalista "e a dos russos que continuam a tentar transmitir a verdade".
A ofensiva militar russa na Ucrânia já provocou a morte de pelo menos 1.793 civis, incluindo 176 crianças, e feriu 2.439, entre os quais 336 menores, segundo os dados mais recentes Organização das Nações Unidas (ONU).
O conflito levou também à fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,5 milhões para os países vizinhos, e a um número indeterminado de baixas militares.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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