Em Bucha, um homem morreu por ter o mesmo apelido que o opositor Navalny

O opositor de Vladimir Putin afirma que "tudo indica" que Ilya Navalny foi morto "por causa do seu apelido" e acusa o presidente russo de ser um "maníaco delirante obcecado por alguma tolice sobre geopolítica, história e estrutura do mundo".

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Márcia Guímaro Rodrigues
19/04/2022 22:59 ‧ 19/04/2022 por Márcia Guímaro Rodrigues

Mundo

Guerra na Ucrânia

Alexei Navalny, o maior opositor do regime russo, revelou esta terça-feira que Ilya Navalny, um homem de 60 anos, foi “morto por causa do seu apelido” na cidade ucraniana de Bucha. Segundo o opositor do presidente da Rússia, Vladmir Putin, as tropas russas “esperavam que fosse um parente” seu.

"Um passaporte com o apelido ‘Navalny’ está ao lado de um cadáver no chão. Esta é uma das pessoas mortas na aldeia ucraniana de Bucha. Ilya Ivanovich Navalny", começou por contar, na rede social Twitter, o político, que se encontra preso desde janeiro de 2021 por acusações que considera terem sido “fabricadas”.

Segundo Navalny, “tudo indica que o mataram por causa do seu apelido” e “é por isso que o seu passaporte foi deixado de forma desafiadora nas proximidades”. “Uma pessoa completamente inocente foi morta pelos carrascos de Putin (que mais lhes posso chamar? Definitivamente não ‘soldados russos’) porque ele é meu homónimo. Aparentemente, esperavam que fosse um parente meu”, considerou.

“Não sei se ele é meu parente. Ele é da mesma aldeia que o meu pai. Então, talvez seja meu parente, mas geralmente há muitos Navalnys naquela aldeia”, acrescentou.

Segundo a porta-voz de Navalny, trata-se mesmo de um parente “afastado” do opositor russo. Kira Yarmysh, que cita uma notícia da BBC, afirma que o autarca da vila de Novoye Zalesye, Pavel Navalny, revelou que “Ilya era um familiar afastado de Alexei" e têm "um bisavô em comum”. Também Pavel é primo em segundo grau do opositor russo. 

A morte do homem foi noticiada a 17 de abril pelo jornal alemão Bild. De acordo com moradores de Bucha - cidade palco de crimes contra cometidos civis - Ilya Navalny foi encontrado morto a 12 de março com um ferimento de bala na cabeça

Navalny lembrou ainda os tempos de criança e o quanto ficou “maravilhado” quando viu o monumento de homenagem às vítimas da “Grande Guerra Patriótica”, termo como ficou conhecida a Segunda Guerra Mundial para os soviéticos. “Estou habituado ao facto de o meu apelido ser raro, mas havia vários Navalnys lá”, explicou.

“Bem, agora haverá outro monumento na Ucrânia para aqueles que morreram na guerra, e o nome de Ilya Ivanovich Navalny, nascido em 1961, estará lá, entre outros. E esta guerra também foi desencadeada por um maníaco delirante obcecado por alguma tolice sobre geopolítica, história e estrutura do mundo”, acrescentou, numa comparação de Putin com o nazi Hitler. 

E alertou: “Este maníaco não vai parar. Ele, como um viciado em drogas, ficou viciado em morte, guerra e mentiras - precisa delas para manter o seu poder”.

Por isso, “agora é dever de todos” fazer alguma “contribuição” para “terminar esta guerra e tirar Putin do poder”. “Proteste onde e como puder. Agite como puder e quem puder. A inação é a pior coisa possível. E agora sua consequência é a morte”, apelou.

Assinala-se, esta terça-feira, o 55º dia da invasão russa da Ucrânia. Pelo menos 2.072 civis morreram e 2.818 ficaram feridos, segundo dados confirmados pela Organização das Nações Unidas (ONU), que alerta que o número real pode ser muito maior.

Leia Também: Alexey Navalny pede que o Ocidente lance uma campanha contra Putin

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