Um relatório hoje divulgado pela organização Viginium - uma agência do Estado francês encarregado da vigilância e proteção contra ingerência informática estrangeira - revela os "modos operacionais de informação" utilizados por Moscovo para legitimar a sua "operação militar especial" e minar o apoio ocidental a Kyiv.
No dia em que se assinalam os três anos da invasão russa da Ucrânia, a agência conclui que a atividade do regime russo para interferir na opinião pública europeia tem-se acentuado durante aquele período, diversificando o seu arsenal de desinformação.
Estes mecanismos de desinformação russo incluem a criação de páginas eletrónicas na Internet, em alguns casos imitando órgãos de comunicação social -- como as publicações Le Monde, Washington Post e Der Spiegel - para disseminar notícias falsas e propaganda.
O relatório da Viginum identifica vários Modos Operacionais Informacionais (MOI) russos.
Entre estes modos, a organização destaca o RRN (Reliable Recent News) - também conhecido como Doppelganger ou Ruza Flood - que utiliza uma rede de centenas de páginas eletrónicas na Internet de desinformação para disseminar notícias falsas e propaganda anti-ucraniana.
Estes 'sites' imitam as páginas de meios de comunicação como o Le Monde e o The Washington Post, bem como de instituições como a NATO e o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês.
Outro MOI preocupante para as autoridades europeias é o Matriochka, cujo objetivo é desacreditar os meios de comunicação e a comunidade de verificadores de factos, acusando-os de disseminar notícias falsas sobre o conflito.
O Matriochka divulga conteúdos falsos em redes sociais como a Telegram e interpela diretamente os seus alvos na X, pedindo-lhes que investiguem estes conteúdos.
O relatório também destaca a criação de novos meios de comunicação - como o Voice of Europe e o Euromore - que promovem a posição da Rússia sobre o conflito na Ucrânia e criticam o governo do líder ucraniano, Volodymyr Zelensky.
O dispositivo de influência russo também tem procurado amplificar falsas manifestações anti-ucranianas em várias capitais europeias, recrutando intermediários em plataformas online, procurando desacreditar a Ucrânia e a União Europeia (UE).
Apesar dos esforços da Rússia, a Viginium considera que o impacto das campanhas de desinformação tem sido limitado, devido a erros técnicos e à má qualidade dos conteúdos.
Ainda assim, para a organização francesa, a persistência e a capacidade de adaptação dos MOI russos representam um desafio constante, pressionando a UE para continuar a adotar medidas para combater a desinformação russa, incluindo o bloqueio de 'sites' e canais de comunicação, a sanção de indivíduos e organizações envolvidas em atividades de desinformação.
O relatório da Viginum revela ainda que o continente africano se tornou um novo campo de batalha da desinformação russa.
Com o isolamento da Rússia face às potências ocidentais, o regime do Presidente Vladimir Putin tem vindo a procurar novas parcerias na cena internacional, especialmente em África, onde a Viginium detetou operações informacionais que acusam as autoridades europeias de financiar grupos armados terroristas em África para desestabilizar os regimes aliados da Rússia.
Leia Também: Acordo sobre minerais com EUA em "fase final" de negociações