Investigador académico usa lixo para estudar a vida na Coreia do Norte

A pandemia tornou ainda mais difícil para pessoas de fora descobrir o que acontece dentro da Coreia do Norte.

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Sara Gouveia
21/04/2022 08:32 ‧ 21/04/2022 por Sara Gouveia

Mundo

Coreia do Norte

Quando as ondas trazem lixo para as praias das ilhas sul-coreanas, Kang Dong Wan pode ser encontrado à caça do que chama o seu 'tesouro' – lixo da Coreia do Norte que permite espreitar um local que está fechado para a maioria dos estrangeiros. "Isto pode ser material muito importante porque podemos saber que produtos estão a ser manufaturados na Coreia do Norte e o que é que as pessoas usam lá", explicou Kang, de 48 anos, professor na Universidade sul-coreana de Dong-A, à Associated Press.

Foi forçado a começar a usar o método de recolha delicado, tendo em conta que a pandemia tornou ainda mais difícil para as pessoas de fora descobrir o que acontece dentro da Coreia do Norte - uma das nações mais fechadas do mundo, mesmo sem encerramento de fronteiras.

O investigador crê que a variedade, quantidade e sofisticação do lixo confirmam os relatos dos meios de comunicação norte-coreanos de que Kim Jong Un está a incentivar a produção de vários tipos de bens alimentares e de um melhor setor de design industrial para responder às necessidades do povo e melhorar as suas vidas.

Apesar da sua liderança autoritária, Kim não pode ignorar os gostos dos consumidores que agora compram produtos em mercados de estilo capitalista, tendo em conta que o sistema de racionamento público deixou de funcionar e os problemas económicos pioraram durante a pandemia. "Os atuais residentes norte-coreanos são uma geração que sabe o que são o mercado e a economia. Kim não consegue ganhar o seu apoio se só os suprimir e controlar enquanto mantém as suas pretensões de um programa de desenvolvimento nuclear", elaborou Kang, acrescentando que "precisa de mostrar que há algumas mudanças na sua era".

Desde setembro de 2020, Kang visitou cinco ilhas sul-coreanas fronteiriças na costa oeste do país e colecionou mais de 2 mil pedaços de lixo, incluindo pacotes de aperitivos, de sumo, doces e garrafas de bebidas. Diz ter ficado admirado por ver dezenas de materiais coloridos nas embalagens, cada um para determinado tipo de produtos como temperos, gelados, bolos e produtos lácteos. Muitos com elementos gráficos, personagens de cartoon e tipos de letras diferentes. Admitindo, no entanto, que alguns ainda parecem fora dos padrões ocidentais e são cópias de designs sul-coreanos e japoneses.

Os ingredientes utilizados em alguns sumos de pacote, por exemplo, mostram que a Coreia do Norte usa folhas de árvore como substituto do açúcar. Kang suspeita que isso estará relacionado com a falta de açúcar e inexistência de equipamento de processamento.

Descobriu também mais de 30 pacotes de intensificadores de sabor diferentes, o que considera que poderá significar que as famílias não têm posses suficientes para comprar ingredientes naturais mais caros, como carne ou peixe, para fazer as suas sopas ou ensopados. 

Os sacos de plástico para detergentes têm frases como "amigo das donas de casa" ou "mulheres acomodadas" -  aludindo a uma função que é apenas feita por mulheres, como reflexo da dominância masculina na sociedade norte-coreana. Há também publicidades exageradas como um bolo de aperitivo que diz que é melhor fonte de proteína que a carne.

Leia Também: Coreia do Norte organiza desfile civil em aniversário do fundador do país

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