"Esta guerra está a agravar uma crise tripla -- alimentar, energética e financeira - na região e mais além", disse Guterres no início de uma visita a três países da África Ocidental.
Para o secretário-geral da ONU, os problemas de segurança alimentar de África não serão resolvidos sem "reintegrar a produção agrícola da Ucrânia e a produção de alimentos e fertilizantes da Rússia e da Bielorrússia nos mercados mundiais".
Guterres mostrou-se "determinado a fazer tudo para facilitar um diálogo que possa contribuir para se alcançar este objetivo".
O ex-primeiro-ministro português falava no domingo no Senegal, antes de partilhar o 'Iftar' (jantar que quebra o jejum no Ramadão) com o Presidente Macky Sall, que no início do ano se tornou presidente em exercício da União Africana.
O secretário-geral da ONU deverá viajar hoje para o Níger, onde se reunirá com muçulmanos para marcar o fim do mês do Ramadão, e na terça-feira segue para a Nigéria, onde deverá alertar contra a violência do extremismo islâmico.
Guterres disse estar preocupado com a forma como a guerra na Ucrânia está a afetar o continente africano e disse ter criado o Grupo de Resposta à Crise Global de Alimentação, Energia e Finanças para mobilizar as agências da ONU, os bancos de desenvolvimento e outras organizações internacionais para este problema.
Macky Sall lamentou, por seu lado, o "impacto dramático da guerra nas economias dos países em desenvolvimento".
Guterres pediu ainda a reforma do sistema financeiro global, que disse estar "moralmente falido", e defendeu que todos os mecanismos disponíveis devem ser usados para beneficiar os países em desenvolvimento e de médio rendimento, especialmente em África.
Voltou ainda a apelar à equidade vacinal para ajudar África a recuperar da pandemia.
"É inaceitável que hoje quase 80% da população africana ainda não esteja vacinada", disse, apelando aos países ricos e às farmacêuticas para acelerarem a doação de vacinas e investirem na produção local desses fármacos.
Antes de viajar para o Níger, Guterres também defendeu que as juntas militares no Burkina Faso, Guiné-Conacri e Mali devem devolver o poder aos civis "o mais depressa possível".
"Concordamos com a importância de continuar o diálogo com as autoridades de facto [desses] três países para estabelecer o retorno à ordem constitucional o mais depressa possível", afirmou Guterres em Dacar, após o encontro com Macky Sall.
Enfraquecida pela crise do Sahel, a África Ocidental foi ainda mais desestabilizada pelos golpes militares que ocorreram sucessivamente no Mali (agosto de 2020 a maio de 2021), Guiné-Conacri (setembro de 2021) e Burkina Faso (janeiro de 2022).
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