"No âmbito das comemorações do centenário, entendemos que devíamos organizar ou criar aquilo que se podia chamar de roteiro Amílcar Cabral, que podia ser transformado num projeto de turismo cultural", disse Pedro Pires, em entrevista à agência Lusa, na cidade da Praia.
O antigo Presidente cabo-verdiano (2001 -- 2011) disse que já abordou essa questão do roteiro com o presidente da câmara municipal da Praia, Francisco Carvalho, e foram identificados alguns locais na capital do país, entre eles a antiga residência da mãe, em Ponta Belém.
"Identificámos outros pontos interessantes", prosseguiu, adiantando que já falou com "alguns amigos" em São Vicente, para se ver também aí o que é que se pode fazer para a constituição desse itinerário do líder histórico.
Na cidade do Mindelo, Amílcar Cabral viveu e frequentou o liceu entre os 13 e os 19 anos, mais concretamente no Liceu Central Infante Dom Enrique, que após seis dias fechado, reabriu agora com o nome de Liceu Gil Eanes, atualmente onde funciona um polo da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).
Na também denominada de 'Ilha do Monte Cara', a principal praça tem o nome de Amílcar Cabral, mas é popularmente conhecida por Praça Nova, no centro da cidade, construída em 1895.
Pedro Pires disse que também abordou essa questão indiretamente com a presidente da câmara municipal de Santa Catarina de Santiago, Jassira Monteiro, numa recente visita que fez a esse município, onde se situa a casa onde Cabral viveu com os pais entre 1932 -- 1933/34, mas que está a degradar-se.
Também já introduziu o assunto a outras entidades, prevendo agora levar a ideia ao primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, para todos identifiquem muito mais sítios onde Cabral terá estado no arquipélago.
"É preciso identificar outros pontos do roteiro Amílcar Cabral em Cabo Verde", insistiu o presidente da Fundação, notando que já há o roteiro de Cabral na Guiné-Bissau, na Guiné-Conacri, bem como os roteiros da luta de libertação nacional.
"Mas aí, nós, a partir de Cabo Verde pouco podemos fazer. O que podemos é continuar a falar, a fazer propostas a entidades interessadas nesse projeto, quer em Cabo Verde, quer na Guiné-Bissau", prosseguiu o presidente, lamentando a ausência de interlocutores capacitados para fazer esse trabalho em vários sítios, inclusive na Guiné-Bissau.
Além de Cabo Verde, Pedro Pires disse que o roteiro poderá passar por Lisboa, em Portugal, onde Cabral estudou, mais concretamente no Instituto Superior de Agronomia, a casa dos estudantes do império e a casa onde teria morado durante os estudos.
Para tudo isso, espera contar com parcerias e contactos, avisando que a Fundação Amílcar Cabral não seria a única responsável por tudo isso, reafirmando que as comemorações do centenário deve ser um "assunto de Estado".
"Entendo que o próprio Estado de Cabo Verde, o Governo de Cabo Verde, a Presidência da República de Cabo Verde são entidades que, em certa medida, devem ter intervenção nessa área, sobretudo na preparação do centenário", apelou a mesma fonte nas declarações à Lusa.
Ainda relativamente ao roteiro, Pedro Pires indicou outros sítios em Santiago, mas também na ilha do Fogo, mais concretamente na antiga instalação do Vulcan-Bar, que tem um poema feito por Amílcar Cabral com o mesmo nome, composto em morna por Jorge Monteiro (Jotamont).
"Para fazer um poema ao Vulcan-Bar e às pessoas que aí trabalhavam teria que ter lá estado", salientou, dizendo que são questões a fixar no quadro da preparação do centenário.
E mais do que estar pronto por altura do centenário, o presidente disse que será "interessante" percorrer o roteiro em Cabo Verde dentro de pouco mais de dois anos e três meses.
Além das entidades públicas, garantiu que vai manter contactos com privados e universidades, insistindo que se trata de um projeto que a Fundação não pode abraçar sozinha.
O centenário do nascimento do patrono da fundação terá o seu ponto alto em 12 de setembro de 2024, dia em que se fosse vivo Amílcar Cabral completaria 100 anos, esperando atrair para Cabo Verde "pessoas com diversos interesses e das mais diversas origens".
"Podemos fazer da celebração do centenário um grande evento político, cultural e mesmo turístico, pensando no turismo histórico e cultural", sugeriu o antigo combatente da liberdade e antigo primeiro-ministro de Cabo Verde, esperando uma "grande celebração" em 2024.
Além do centenário, a fundação está a trabalhar num projeto de inscrição dos escritos de Amílcar Cabral no programa "Memória do Mundo" da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), estabelecido em 1992 com o objetivo de contribuir para a preservação do património documental mundial.
A fundação, que tem como missão a preservação da obra e memória do seu patrono, criou em 2015 o espaço museológico Sala-Museu Amílcar Cabral, onde pretende dar a conhecer às gerações mais novas e aos turistas que visitam a cidade da Praia a história da luta de libertação liderada por Cabral.
Fundador do então Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que em Cabo Verde deu lugar ao Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), e líder dos movimentos independentistas nos dois países, Cabral foi assassinado em 20 de janeiro de 1973, em Conacri.
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