"Não nos dissuadirão os últimos acontecimentos", disse a porta-voz do executivo ruandês, Yolande Makolo, horas após o Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) intervir para impedir um voo que tinha sido criticado por organizações humanitárias e pela Igreja anglicana.
Makolo, que já na terça-feira disse que o Ruanda está pronto para acolher "milhares" de migrantes, reiterou que o desafio migratório atual é insustentável e que "não pode continuar uma situação em que há pessoas a empreender perigosas viagens", segundo declarações citada pelo jornal 'The New Times'.
O Governo de Boris Johnson, por seu lado, deixou claro que continuará a tentar enviar os requerentes de asilo para o Ruanda.
A ministra do Trabalho, Therese Coffey, assegurou, em entrevista à BBC que "os advogados do Ministério do Interior já estão a trabalhar nos próximos passos" e a "preparar o voo seguinte".
O acordo com o Ruanda permite às autoridades britânicas enviar para o país africano os requerentes de asilo que cruzem o Canal da Mancha.
O acordo tem um custo de 120 milhões de libras - 144 milhões de euros - e incidirá principalmente em homens sem responsabilidades familiares que chegam ao Reino Unido através de embarcações ou camiões, que poderão solicitar asilo no Ruanda e não no Reino Unido.
As organizações defensoras dos direitos humanos defendem que as autoridades britânicas estão a violar as suas obrigações em matéria de proteção ao realizar expulsões que, em seu entender, implicam externalizar responsabilidades para um terceiro país, que não é origem dos cidadãos afetados.
O Reino Unido cancelou na terça-feira à noite o seu primeiro voo de deportação para o Ruanda após uma intervenção de última hora do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que decidiu haver "um risco real de danos irreversíveis" aos requerentes de asilo.
A decisão de cancelar o voo de hoje encerrou três dias de desafios judiciais frenéticos, enquanto os defensores dos direitos de imigração e os sindicatos tentavam impedir as deportações.
Os líderes da Igreja Anglicana juntaram-se à oposição, chamando a política do Governo de "imoral".
Apesar dos protestos, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, defendeu enfaticamente o plano do Reino Unido, argumentando que é uma maneira legítima de proteger vidas e anular os gangues criminosos que contrabandeiam migrantes pelo Canal da Mancha em pequenas embarcações.
A ministra do Interior britânica, Priti Patel, disse estar desapontada com o facto de o voo não poder partir, mas não seria "impedida de fazer a coisa certa".
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