"Nesta semana do dia 07 de setembro, serão iluminados com as cores brasileiras monumentos, praças, palácios e prédios em Buenos Aires, Córdoba, Mendoza, Salta, Santa Fé, Catamarca, San Luis, Tucumán, San Juan, Rio Negro e Terra do Fogo", anunciou a Embaixada do Brasil na Argentina, acrescentado que a homenagem vai durar toda a semana entre as 18:00 e as 24:00.
Porém, as homenagens foram limitadas devido ao grau de comoção social após a tentativa de assassínio da vice-Presidente argentina, Cristina Kirchner, na passada quinta-feira.
O episódio levou o Presidente argentino, Alberto Fernández, a decretar feriado nacional no dia seguinte para incentivar a mobilização social "em defesa da democracia e em solidariedade com Cristina Kirchner", após o frustrado atentado cometido por Fernando Montiel, um brasileiro de 35 anos, radicado em Buenos Aires desde a infância.
Fernando André Sapag Montiel apontou com uma pistola a poucos centímetros do rosto da vice-Presidente e chegou a puxar o gatilho, mas o tiro falhou.
As manifestações solidárias com Cristina Kirchner e o clima de comoção levaram a Embaixada do Brasil na Argentina a cancelar a grande festa de gala em comemoração do bicentenário da independência do Brasil, previsto justamente para o dia das manifestações.
"A Embaixada do Brasil informa que, pelos motivos de conhecimento público, decidiu cancelar a receção de comemoração pelo 200.º Aniversário da Independência do Brasil, prevista para hoje, 02 de setembro às 19:00, no Palácio Pereda", anunciou a representação diplomática.
Em maio de 1823, quando ainda se chamava Províncias Unidas do Sul, a Argentina foi o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil, depois de a própria Argentina ter recebido, em agosto de 1821, o primeiro reconhecimento internacional da sua independência por parte do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
As relações entre Brasil e Argentina, por quase dois séculos, foram marcadas por altos e baixos, mas sempre por uma latente hipótese de conflito bélico e com medidas contrárias à integração.
As Forças Armadas dos dois países concentravam-se na região de fronteira. Nos anos 1950, iniciaram uma corrida pela energia nuclear e, nos anos 1980, estavam próximos de construir a bomba atómica.
Foi quando o então Presidente argentino Raúl Alfonsín (1983-1989) tomou a iniciativa de abrir o segredo nuclear argentino ao Brasil e acabar com a hipótese de guerra.
"Essa foi a mudança no rumo da história", apontou à Lusa o historiador argentino Roberto Azaretto.
Os dois países trocaram as ogivas pela integração, uma experiência considerada inédita e exemplar no mundo.
"Toda a nossa história é de conflitos e de irmandade ao mesmo tempo. Um relacionamento de amor e ódio permanente. Tivemos momentos muito graves. A bomba argentina foi planeada para ser lançada no Brasil. E o mesmo do lado brasileiro. Até à década de 1990, o Brasil era, claramente, um concorrente comercial, político e militar. Era rival em tudo", disse à Lusa Diego Guelar, um diplomata que foi embaixador argentino no Brasil, na União Europeia, na China e nos Estados Unidos.
Nos anos 1990, Brasil e Argentina consolidaram a parceria, tornando-se o eixo da integração regional.
"O Brasil representa o país indispensável com o qual temos de ter políticas comuns de inserção no mundo. Temos de ter bem claro, argentinos e brasileiros, que se queremos ser independentes neste mundo de duas superpotências (Estados Unidos e China) é fundamental a nossa interdependência", acrescentou Roberto Azaretto.
Em 07 de setembro de 1822, D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal proclamou a independência do país que é hoje o gigante da América do Sul, nas margens do Rio Ipiranga.
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