A polícia de Boston, nos Estados Unidos, confirmou na terça-feira que está a investigar um possível crime de ódio depois de uma bandeira trans ter surgido queimada à porta de uma igreja na cidade, no mês passado.
A igreja em questão, denominada United Parish of Brookline, é um espaço religioso que procura ser inclusivo para a comunidade queer, e a bandeira trans (identificável pelas cinco faixas a branco, rosa e azul-bebé) estava hasteada há mais de um ano.
Segundo as autoridades, acredita-se que o incidente ocorreu durante a madrugada do dia 25 para o dia 26 de agosto, entre as 22h e as 9h.
O pastor da igreja, o reverendo Kent French, que se identifica como 'queer', lamentou o sucedido, descrevendo à NBC News que a comunidade em torno da igreja de Boston ficou "chocada".
"Estamos inclinados a achar que foi um incidente isolado, mas isto deixa-nos vigilantes e cautelosos", disse French, acrescentando que é incerto que as câmaras de segurança tenham captado o ataque.
Através do Twitter, a igreja escreve que acredita que "todas as pessoas são feitas à imagem de Deus" e "abraça e acarinha todas as pessoas e todo o tipo de famílias".
Each Sunday, we affirm on our worship bulletin that:
— United Parish in Brookline (@UPBrookline) September 3, 2022
We at the United Parish in Brookline believe that all people are made in the image of God and embrace and cherish every person and every kind of family.
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"Afirmamos e acolhemos todas as pessoas a partilhar em prece, amizade e liderança connosco, a juntar-nos numa diversidade de raça, género, identidade sexual, habilidade física e mental, etnia e meios económicos", salienta a igreja, reiterando que "a violência e ódio demonstrados no nosso terreno não tem lugar no tipo de mundo que Jesus imaginou e que Deus criou".
O incidente em Boston é o mais recente ataque à comunidade trans na cidade e nos Estados Unidos - no mês passado, foi feita uma ameaça de bomba a um hospital pediátrico na cidade por membros de milícias de extrema-direita, que criticavam o estabelecimento por ajudar jovens trans em cuidados de transição de género, físicos ou mentais; e, em julho, um centro de apoio a idosos LGBTQ foi vandalizado com insultos homofóbicos.
No geral, a comunidade LGBTQ+ tem sido vilmente atacada pelos conservadores republicanos, na antecâmara das eleições intercalares nos Estados Unidos (ou 'Midterms'). Muitos republicanos têm feito da sua campanha uma defesa dos valores tradicionais e heteronormativos, especialmente nos estados tendencialmente conservadores.
No estado do Texas, por exemplo, o partido republicano declarou oficialmente, em 2022, que a homossexualidade é "uma escolha de estilo de vida anormal" e prometei combater "todos os esforços para validade a identidade transgénero". O governador do mesmo estado, Greg Abbott, aprovou ainda uma lei que criminalizava não só os tratamentos de conversão de sexo, desde a terapia à própria cirurgia, como culpabilizava os pais que não denunciassem a transsexualidade dos filhos.
No mesmo estado, foram feitos vários ataques a 'drag queens' que iam a escolas ou a centros infantis ler histórias inclusivas a crianças (uma série de eventos conhecida como 'Drag Queen Story Hour', que existe desde 2015) - e na Califórnia, um grupo de supremacistas brancas ameaçou mesmo um destes eventos.
Além disso, vários estados, nomeadamente a Flórida, proibiram quaisquer conteúdos LGBTQ nas escolas, seja em manuais escolares ou através dos professores, que ficaram também interditos de tirar dúvidas a alunos LGBTQI+ sobre a sua própria identidade de género - um limite que surgiu em defesa daquilo que os republicanos consideram ser a "educação tradicional".
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