Um antigo funcionário do Comissão de Inquérito ao ataque ao Capitólio, do dia 6 de janeiro de 2021, revelou no domingo que alguém na administração de Donald Trump contactou um invasor através de uma telefone fixo na Casa Branca, fomentando as suspeitas de ligações entre a equipa do antigo presidente e os apoiantes que atacaram o edifício do Congresso.
As revelações fazem parte de um livro de Denver Riggleman que, numa entrevista ao programa '60 Minutes' da CBS, no domingo, confirmou a existência da chamada.
Riggleman contou que a chamada entre um membro da administração de Trump (cuja identidade se mantêm desconhecida) e Anton Lunyk, um apoiante de 26 anos, durou nove segundos e foi efetuada às 16h34 - poucos minutos depois de Trump ter publicado um 'tweet' em que pediu aos seus apoiantes para "irem para casa".
Os advogados de Lunyk, que foi condenado a um ano de pena suspensa por invadir o Capitólio, recusaram comentar a ligação - mas Riggleman vincou na entrevista, citada pelo New York Times, que "os dados confirmam que a chamada aconteceu".
As ações de Donald Trump antes e durante o ataque continuam a ser investigadas pela Comissão de Inquérito da Câmara dos Representantes, que tem repetidamente demonstrado como o antigo presidente e a sua equipa tentaram reverter o resultado das eleições presidenciais de 2020. Trump é também acusado de incentivar a multidão que atacou o Congresso no dia 6 de janeiro, através de várias mensagens e comícios nos dias anteriores e no dia do ataque.
Para Riggleman, a chamada entre a Casa Branca e Anton Lunyk é um momento crucial na investigação, mas recusa classificá-la como um momento de irrefutável culpa.
Denver Riggleman says that text messages turned over to the January 6th committee by former White House Chief of Staff Mark Meadows provide “irrefutable” proof of a plot to overturn the 2020 presidential election. https://t.co/XikMGAJgl8 pic.twitter.com/dWRzT24Gtx
— 60 Minutes (@60Minutes) September 25, 2022
No seu livro, 'The Breach' ('A Brecha', traduzido do inglês), o antigo funcionário da comissão e antigo deputado republicano na Câmara dos Representantes pelo estado do Virgínia, descreve mais comunicações feitas a partir da Casa Branca com o objetivo de planear o ataque - nomeadamente uma chamada entre Mark Meadows, antigo secretário de Trump, e Phil Waldron, um coronel reformado que chegou a divulgar um plano sobre como reverter as eleições que deram a vitória a Joe Biden - e que Trump continua a considerar como "ilegais", apesar de todas as entidades oficiais garantirem a integridade do sufrágio.
Apesar das revelações, o livro terá causado algum mau estar dentro da comissão de inquérito. Denver Riggleman fez duras críticas ao membros do painel, por considerar que estes não estavam a ser suficientemente duros com o antigo presidente e as suas ações.
Riggleman também disse que a comissão não estava disposta a gastar mais dinheiro para aprofundar a investigação às suspeitas de ligações entre a equipa de Donald Trump e milícias violentas de extrema-direita, como os Oath Keepers e os Proud Boys (os dois grupos que estiveram mais envolvidos na coordenação do ataque e são regularmente responsabilizados por manifestações violentas, racistas, homofóbicas e supremacistas).
O painel já respondeu às críticas do antigo membro e, ao New York Times, o porta-voz do comité, Tim Mulvey, garantiu que os deputados "investigaram de forma agressiva estas suspeitas e recolheram mais factos, alguns dos quais demonstraram ser relevantes e outros nem por isso".
A comissão de inquérito deverá voltar a reunir-se nas próximas semanas, com mais informações sobre o ataque ao Capitólio e a intervenção de Donald Trump - sendo incerto se isso ocorrerá antes das eleições intercalares, ou 'Midterms', que estão agendadas para o início de novembro.
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