O secretário-geral "condena veementemente qualquer tentativa de tomada do poder pela força das armas e pede a todos os atores que se abstenham de toda a violência e procurem o diálogo", afirma o seu porta-voz Stéphane Dujarric, no comunicado.
António Guterres "expressa o seu total apoio aos esforços regionais, visando um rápido retorno à ordem constitucional no país", e diz que o Burkina Faso "precisa de paz, estabilidade e unidade para combater grupos terroristas e redes criminosas que operam em certas partes do país".
O exército do Burkina Faso reconheceu hoje que estava a atravessar uma "crise interna" e indicou que as "consultas" continuavam, um dia após o discurso dos militares na televisão a anunciarem a demissão do chefe da junta até agora no poder, liderada pelo tenente-coronel Damiba.
"Na sequência de uma crise interna das Forças Armadas Nacionais, algumas unidades tomaram o controlo de certas artérias da cidade de Ouagadougou, pedindo uma declaração de saída do tenente-coronel Damiba. As consultas continuam", indica este texto do Estado-Maior.
Na sexta-feira, um grupo de militares, liderados pelo capitão do Exército do Burkina Faso Ibrahim Traoré, levou a cabo um golpe de Estado e derrubou o líder da junta militar que governava o país, o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba.
Numa mensagem dirigida à nação, transmitida pela televisão estatal RTB, os executores do último golpe de Estado no país acusaram Damiba de se desviar do ideal do Movimento Patriótico para a Salvaguarda e a Restauração (MPSR), nome da junta que assumiu o poder na sequência de um outro golpe de Estado, a 24 de janeiro.
Após um dia confuso, marcado por uma insurreição militar e disparos em zonas estratégicas da capital do país, Ouagadougou, os novos autores do golpe de Estado, que ainda afirmam pertencer ao MPSR, anunciaram várias medidas, como a suspensão da Constituição.
Da mesma forma, os militares liderados por Traoré, o novo homem forte do país, decretaram a dissolução do Governo e da Assembleia Legislativa de Transição e o estabelecimento de um recolher obrigatório, entre as 21h00 (22h00 em Lisboa) e as 5h00 (6h00 em Lisboa).
Também determinaram o encerramento das fronteiras até novo aviso, e a suspensão de todas as atividades políticas e da sociedade civil.
"As forças ativas da nação serão convocadas em breve para adotar uma nova Carta de Transição e designar um novo Presidente do [Burkina] Faso, civil ou militar", referiram.
A aparição televisiva dos militares ocorreu horas depois de a Presidência do Burkina Faso ter assegurado que mantinha conversações com os militares que se revoltaram na sexta-feira de manhã, com o objetivo de restabelecer a calma no país africano.
O porta-voz do Executivo do Burkina Faso, Lionel Bilgo, tinha referido à televisão local BF1 que "nenhum membro do governo foi preso", depois de alguns rumores apontarem para a possível prisão de Damiba.
Os militares ocuparam várias áreas estratégicas da capital Ouagadougou na manhã de sexta-feira, fechando escolas, bancos e empresas.
Também foram ouvidas explosões, nesse dia, no quartel-general de Baba Sy, onde o golpe liderado pelo atual presidente de transição começou em 24 de janeiro. Mais tarde, verificaram-se tiros esporádicos.
A situação desenrolou-se após uma caravana com mantimentos, escoltada pelo Exército do Burkina Faso, ter sido atacada por terroristas em 26 de setembro, perto da cidade de Gaskindé, no norte.
O balanço provisório oficial apontava para 11 mortos, 28 feridos, entre militares, voluntários que apoiam as Forças Armadas e civis e cerca de 50 civis desaparecidos.
O Burkina Faso tem sofrido ataques de extremistas islâmicos frequentes desde abril de 2015, cometidos por grupos ligados tanto à Al-Qaida como ao grupo Estado Islâmico, cujas ações afetam 10 das 13 regiões do país.
Em novembro de 2021, um ataque a um posto de 'gendarmerie' causou 53 mortes (49 'gendarmes' e quatro civis), o que levou a uma agitação social generalizada que resultou em fortes protestos exigindo a demissão do Presidente Roch Marc Christian Kaboré.
Alguns meses mais tarde, em 24 de janeiro, os militares liderados por Damiba tomaram o poder num golpe de Estado - o quarto na África Ocidental desde agosto de 2020 - e depuseram o Presidente.
Leia Também: Militares bloqueiam vias na capital do Burkina Faso após golpe de Estado