O naufrágio ocorreu ao largo da costa de Crotone (Calábria, sul), quando um barco de pesca que transportava cerca de 180 migrantes, na maioria afegãos, iranianos, paquistaneses e sírios, se afundou a apenas 150 metros da praia.
A tragédia ocorreu na noite de 25 para 26 de fevereiro de 2023, e figura entre os naufrágios mais mortíferos registados ao largo da costa italiana nos últimos anos.
"Não podemos esquecer as 94 vítimas do naufrágio de Steccato di Cutro", afirmaram 10 organizações não-governamentais (ONG) que operam em Itália, incluindo Médicos Sem Fronteiras, Open Arms, Sea-Watch e SOS Mediterranée Italia.
Entre os 94 mortos, 35 eram menores.
O caso gerou polémica depois de se ter revelado que as autoridades italianas foram informadas de um barco em perigo pela Frontex, a agência europeia de guarda costeira.
Apesar do aviso, nenhuma autoridade interveio até que os residentes de Steccato di Cutro ouviram os gritos dos migrantes que lutavam pela vida.
"Não foi ativado qualquer plano de busca e salvamento nessa noite", denunciaram as ONG no comunicado, citado pela agência espanhola EFE.
O caso foi a tribunal e, em julho de 2024, quatro agentes da Guardia di Finanza e dois da Guarda Costeira italiana foram acusados de naufrágio imprudente e homicídio múltiplo por alegadamente terem atrasado o salvamento da embarcação "Summer Love".
As ONG também lamentaram as mortes registadas na tentativa de atravessar as águas do Mediterrâneo desde 2014, ano em que "mais de 31 mil pessoas desapareceram".
"Reiteramos a necessidade de criar uma missão de busca e salvamento europeia, juntamente com um alargamento das vias de acesso legais e seguras à Europa", defenderam.
Também apelaram ao Governo italiano para que "ponha termo aos acordos com países terceiros que não respeitam os direitos humanos, como a Líbia e a Tunísia".
Tais acordos fazem parte da política do atual Governo de extrema-direita de Giorgia Meloni para travar os fluxos migratórios ilegais.
"Entre a prática de atribuição de portos distantes e as sanções mais severas introduzidas pelo Decreto sobre os Fluxos, o ataque às ONG é ainda mais reforçado", criticaram as organizações.
O Decreto sobre os Fluxos é a lei em Itália que regula a entrada e a permanência de trabalhadores estrangeiros.
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