Dois dias após as eleições legislativas alemãs, com a vitória dos democratas-cristãos e num contexto de negociações entre os Estados Unidos e a Rússia sobre o conflito na Ucrânia, o especialista do Conselho Europeu de Relações Externas (ECFR), Camille Grand, defende o reforço das capacidades de defesa europeias e um plano para a Ucrânia guiado pelos interesses europeus.
"Muitos esperam que a Alemanha atue mais rapidamente e seja mais ativa numa série de debates", disse à agência France-Presse Camille Grand, também antigo secretário-geral adjunto da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental).
No domingo à noite, Friedrich Merz tomou uma posição muito mais clara, rompendo com a posição transatlântica inalterada da Alemanha desde 1945 e posicionou-se a favor da França.
"A cultura de Friedrich Merz e o contexto internacional fazem desta eleição (legislativa alemã) uma oportunidade para a França. Mas, para que isso aconteça, é preciso agir rapidamente", afirma o especialista do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri), Paul Maurice, referindo-se à situação política francesa que poderá mudar após a nova coligação alemã.
O motor franco-alemão, tantas vezes elogiado desde o pós-guerra e o início da integração europeia, também já não é tão exclusivo, com a chegada de novos atores como a Polónia e a frente pró-Trump encarnada por Giorgia Meloni em Itália e Viktor Orban na Hungria.
"Os franceses estão bem conscientes de que a "liderança" não pode continuar a vir apenas de Paris e Berlim, mas deve envolver muitos outros líderes para ser eficaz", refere Camille Grand.
A Europa tem de conseguir a "independência em relação aos Estados Unidos" e, para isso, reforçar a sua defesa como "prioridade absoluta", afirmou o futuro chanceler, que visitará Paris e Varsóvia assim que tomar posse.
"O que é certo é que, com ele, as coisas irão mais depressa e mais longe em matéria de defesa europeia", segundo uma fonte governamental francesa citada pela agência France Presse.
No domingo, Emmanuel Macron falou com Friedrich Merz a partir do avião que o levava a Washington, nos Estados Unidos, para tentar convencer o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a incluir a Ucrânia e os europeus nas suas negociações com o Presidente russo, Vladimir Putin.
"Estamos num momento histórico. Pode haver uma convergência franco-alemã mais forte do que nunca", afirmou o Presidente francês a alguns jornalistas após saber o resultado das eleições.
Além disso, Macron também telefonou ao chanceler Olaf Scholz, o grande derrotado nas eleições, que permanecerá no cargo durante mais algumas semanas, enquanto o seu sucessor forma um governo.
Segundo os analistas, a presidência francesa está a examinar atentamente o que Friedrich Merz tem a dizer sobre o financiamento das despesas militares na Europa, que poderá implicar um endividamento comum, uma mudança considerada impensável até agora para Berlim.
Friedrich Merz também já mencionou a necessidade de uma dissuasão europeia baseada nas duas potências nucleares, a França e o Reino Unido, um assunto que também é 'tabu' na Alemanha, que observa com cautela a instabilidade política no país vizinho desde a dissolução da Assembleia Nacional em junho de 2024 e o crescente défice público.
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