Liz Truss 'a mãos' com nova crise política. Como chegou aqui?

Veja como foram as primeiras semanas da atual primeira-ministra britânica no cargo.

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© Daniel Leal - WPA Pool/Getty Images

Lusa
14/10/2022 19:56 ‧ 14/10/2022 por Lusa

Mundo

Reino Unido

A primeira-ministra britânica, Liz Truss, tomou posse no mês passado prometendo reativar a economia e colocar o Reino Unido no caminho do "sucesso a longo prazo", mas instabilidade e incerteza estão a marcar o seu início de mandato.

Veja abaixo o resumo das primeiras semanas da chefe do governo britânico no cargo: 

Como é que Liz Truss se tornou primeira-ministra?

O antecessor de Truss, Boris Johnson, foi forçado a abandonar o cargo após uma série de escândalos que culminaram com a demissão de mais de 50 membros do governo. A crise desencadeou uma eleição interna para liderar o Partido Conservador.

 A eleição dividiu os Conservadores. Truss foi a segunda escolha dos deputados do partido, atrás do antigo ministro das Finanças Rishi Sunak, mas ganhou 57% dos votos entre os militantes de base do partido, tornando-se líder e primeira-ministra em 06 de setembro.

Qual é o plano económico do governo?

A 23 de setembro, o ministro das Finanças (hoje demitido), Kwasi Kwarteng, anunciou planos para reduzir os impostos, reduzindo ao mesmo tempo a burocracia e promovendo o investimento para estimular o crescimento económico. O custo do pacote de cortes fiscais foi estimado em 45.000 milhões de libras (52.000 milhões de euros no câmbio atual).

Kwarteng disse também que o Governo iria endividar-se em pelo menos 60.000 milhões de libras (69.000 milhões de euros) para financiar o congelamento dos preços elevados da energia para famílias e empresas, que desencadearam uma crise do custo de vida.

 O Governo assumiu como meta alcançar um crescimento económico médio de 2,5% ao ano para aumentar as receitas fiscais e financiar os serviços públicos.

Porque é que este plano foi mal recebido pelos investidores?

 Kwarteng não forneceu qualquer análise independente sobre se as metas do Governo poderiam ser alcançadas ou qual o impacto nas finanças públicas. Isto desencadeou especulações de que o governo teria de financiar o pacote com endividamento, aumentando a dívida pública para níveis insustentáveis.

 A estratégia de injetar milhares de milhões de libras na economia aumentou o risco agravar a inflação, o que forçaria o Banco de Inglaterra a aumentar as taxas de juro, com impacto nos créditos à habitação.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) criticou os planos do Governo e as agências Fitch e Standard and Poor's reduziram as previsões para o 'rating' do Reino Unido.

Como é que os mercados financeiros reagiram?

A libra caiu para um mínimo histórico em relação ao dólar norte-americano e os juros sobre a dívida soberana dispararam devido à preocupação com a estabilidade das finanças públicas, aumentando os custos do endividamento do Estado. 

 O Banco de Inglaterra anunciou em 28 de Setembro uma rara intervenção de emergência para comprar milhares de milhões de libras de títulos do Tesouro a longo prazo para estabilizar o mercado e proteger os fundos de pensões.

 Os fundos foram forçados a vender títulos para evitar preocupações com a liquidez, o que ameaçava graves consequências para as pensões de reforma de trabalhadores.

Como é que o governo reagiu?

A volatilidade nos mercados financeiros e críticas internas levaram Kwarteng a desistir da abolição do escalão máximo de 45% do imposto sobre os rendimentos para os contribuintes mais ricos, que qualificou como uma "distração" do resto das medidas.

Aceitou ainda divulgar uma análise do Gabinete Independente de Responsabilidade Orçamental, no final de Outubro, mais cedo do que anteriormente previsto, juntamente com um "plano fiscal de médio prazo" sobre a forma como os cortes fiscais serão pagos.

As ameaças de revolta dentro do partido Conservador forçaram Liz Truss a despedir o ministro das Finanças e a abandonar a promessa de manter o imposto sobre as empresas em 19%, aceitando aumentar para 25% em abril para robustecer as contas públicas.  

Deu também a entender que poderá fazer cortes na despesa pública ao antecipar "eficiências" e avisou que "a despesa crescerá menos rapidamente do que anteriormente previsto". 

O que se segue?

É possível que os mercados financeiros permaneçam voláteis até o Governo divulgar o plano económico completo a 31 de outubro, incluindo a análise independente do impacto nas finanças públicas.

Os investidores querem garantias de que o governo está empenhado em reduzir a dívida como percentagem do Produto Interno Bruto, uma vez que o Reino Unido se encontra numa crise económica e está em risco de entrar em recessão.

A nomeação do centrista Jeremy Hunt foi bem recebida no Partido Conservador, mas muitos deputados continuam irritados com Liz Truss, que responsabilizam pela queda nas sondagens, onde estão cerca de 30 pontos percentuais atrás do Partido Trabalhista. 

A imprensa britânica tem especulado sobre conspirações para derrubar e substituir Truss antes das próximas eleições legislativas, mas as regras estipulam que não pode existir uma moção de censura interna até setembro de 2023.   

Leia Também: Partidos da oposição britânica culpam Liz Truss e pedem demissão

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