Tedros Adhanom Ghebreyesus, que intervinha numa conferência de imprensa em Genebra, acrescentou que em nenhum outro lugar do mundo havia seis milhões de pessoas submetidas ao cerco imposto desde há dois anos pelas tropas governamentais àquela província.
"O mundo não presta atenção suficiente" a este conflito, vincou, recordando que "ataques deliberados contra civis ou infraestruturas civis são crimes de guerra".
Tigray é palco há dois anos de um conflito que opõe o exército governamental à Frente Popular de Libertação de Tigray (TPLF, na sigla em inglês).
"Peço à comunidade internacional e à imprensa deem a esta crise a atenção que merece", acrescentou Tedros, natural daquela província e onde muitos familiares seus ainda se encontram.
"Sim, sou do Tigray, e sim, isso afeta-me pessoalmente, não posso dizer que não, mas o meu trabalho é chamar a atenção da comunidade internacional para as crises que ameaçam a saúde das pessoas, onde quer que estejam ", insistiu, com a voz embargada pela emoção.
O diretor-geral da OMS denunciou que no Tigray as "crianças morrem todos os dias de desnutrição".
"Não há serviços para tuberculose, HIV, diabetes, hipertensão, todas as doenças que podem ser tratadas em outras partes do mundo, mas que no Tigray são agora sinónimo de sentença de morte", acusou.
Após uma trégua de cinco meses que deu esperança para as negociações de paz, os combates foram retomados em 24 de agosto.
De acordo com fontes concordantes, Tigray está atualmente encurralado entre uma ofensiva conjunta dos exércitos etíope e eritreu no norte, e tropas etíopes auxiliadas por forças das regiões vizinhas de Amhara e Afar no sul.
Na passada segunda-feira, O secretário-geral das Nações Unidas pediu o fim das hostilidades, considerando que a situação está a ficar "incontrolável" e apelando em particular à "retirada imediata" das tropas eritreias.
"A situação na Etiópia está fora de controlo. A violência e a destruição estão a atingir níveis alarmantes", disse António Guterres à imprensa.
O secretário-geral sublinhou que "não há solução militar" para o conflito, destacando o "terrível preço pago pelos civis" e o "pesadelo" vivido pela população etíope.
Guterres destacou em particular os ataques "aleatórios" que matam civis "todos os dias", as centenas de milhares de pessoas deslocadas pela violência e os "relatos perturbadores de violência sexual e outros atos de brutalidade contra mulheres, crianças e homens".
Devido aos confrontos, a ajuda humanitária a Tigray foi suspensa por sete semanas, frisou, pedindo a todas as partes que permitam a passagem das colunas com ajuda humanitária.
António Guterres também pediu a retoma "urgente" das negociações de paz.
O conflito na Etiópia estalou em novembro de 2020 após um ataque da Frente Popular de Libertação do Tigray à base principal do exército em Mekele, na sequência do qual Abiy Ahmed, primeiro-ministro etíope, ordenou uma ofensiva contra o grupo, após meses de tensões políticas e administrativas.
A TPLF acusa Abiy de alimentar tensões desde que chegou ao poder, em abril de 2018, quando se tornou o primeiro oromo a tomar posse. Até então, a TPLF tinha sido a força dominante no seio da coligação governante da Etiópia desde 1991, a Frente Democrática Revolucionária Popular Etíope (EPRDF), de base étnica.
O grupo opôs-se às reformas da Abiy, que considerou como uma tentativa de minar a sua influência.
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