"Os nossos efetivos estão sobrecarregados, os extremistas estão a ganhar terreno e são cada vez mais numerosos. Nas aldeias há jovens que são capazes de proteger os seus territórios se lhes forem dados alguns meios, incluindo armas", disse um oficial do Exército, que pediu anonimato, citado pela agência EFE.
"A guerra vai começar agora", disse a fonte, que acredita que o recrutamento é a continuação lógica do apelo feito pelo novo Presidente burquinabê, capitão Ibrahim Traore, durante o seu discurso de investidura no dia 21 de outubro, quando pediu uma mobilização patriótica e popular para lutar contra o fundamentalismo islâmico.
Na segunda-feira, o comandante da Brigada de Vigilância e Defesa Patriótica, coronel Boukaré Zoungrana, nomeado ministro da Segurança na terça-feira à noite, incentivou a população através de um comunicado a inscrever-se entre os "15.000 Voluntários da Defesa da Pátria (VDP) para participar em operações militares".
O coronel Zoungrana anunciou, noutro comunicado, datado desta terça-feira, a contratação de 35 mil VDP para as comunas, precisando que a missão será "proteger, em conjunto com as Forças de Defesa e Segurança, as pessoas e bens dos seus municípios de origem".
Para ser um VDP, os candidatos devem ser de "nacionalidade burquinabê, patriotas e de bom caráter, maiores de 18 anos e fisicamente e psicologicamente aptos", lê-se no comunicado.
O estatuto desses auxiliares do Exército é definido pela lei aprovada por unanimidade pela Assembleia Nacional em 21 de janeiro de 2020, que regulamenta a figura do VDP, civis que combatem grupos fundamentalistas islâmicos em colaboração com as Forças Armadas.
Dessa forma, serão recrutados com base numa pesquisa de moralidade e, em seguida, receberão, durante 14 dias, treino cívico e militar antes de receberem armas e equipamento.
Esses auxiliares civis devem reforçar as fileiras do Exército em todo o país para combater o avanço do extremismo islâmico, cujas ações atingem dez das 13 regiões do país, especialmente o norte.
O recrutamento de civis é anunciado uma semana depois de uma campanha de incorporação de 3.000 soldados para reforçar as fileiras do Exército.
O Burkina Faso sofre frequentes ataques extremistas desde abril de 2015, perpetrados por movimentos ligados tanto à Al-Qaida como ao grupo Estado Islâmico.
O país sofreu dois golpes este ano, um em 24 de janeiro, liderado pelo tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba; e outro em 30 de setembro, pelo capitão Ibrahim Traoré, atual Presidente.
A tomada do poder pelos militares ocorreu em ambas as ocasiões após descontentamento da população em relação ao Exército devido aos frequentes ataques extremistas que mantêm mais de 1,7 milhões de pessoas deslocadas, segundo os últimos dados do governo.
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